Parte 1; Parte 2

Essa é a parte 3 das refutações ao artigo "ortodoxo" intitulado: "Todos os bispos são sucessores de Pedro (Florilegium)"[1].

Neste artigo elucidaremos as opiniões do gloriosíssimo Papa São Gregório Magno, expondo a fundo a sua crença, não só por meio das suas palavras mas principalmente pelas suas atitudes, pois, como estará exposto neste texto, os inimigos da Igreja de Cristo se aproveitam das palavras piedosas do Santo Papa para praticarem a mais descarada desobediência.

Vamos a citação:

Para Eulogius, bispo. Gregório para Eulogius, bispo de Alexandria. Vossa Santidade muito me falou em sua carta sobre a cátedra de São Pedro, Príncipe dos apóstolos, dizendo que ele próprio agora se senta na pessoa de seus sucessores. E, de fato, eu me reconheço como indigno, não apenas na dignidade de quem preside, mas até mesmo no número de quem está de pé. Mas aceitei de bom grado tudo o que foi dito, no sentido de que ele falou comigo sobre a cadeira de Pedro que ocupa a cadeira de Pedro.


~Registrum Epistolarum, Book VII, Letter 40

Quem lê o artigo percebe que o autor pede para que mandem citações para que ele possa inserir no artigo dele. Bem, eu gostaria de contribuir com eles, devido à pena que sinto pelas suas próprias incapacidades, de adicionar uma citação, melhor, dessa mesma carta:

Desde então, é a Sé de uma, e uma Sé, sobre a qual por autoridade divina três bispos agora presidem[2]

 Coloco essa passagem almejando que essa citação arranque um grande sorriso do rosto dos “ortodoxos”, para que, assim, eles finalmente possam abrir a sua boca, que ultimamente anda tão fechada.   


OS MESMOS ERROS

Infelizmente os “ortodoxos” caem constantemente nos mesmos erros já fartamente descrito, erros que eu deixei em evidência já no meu primeiro artigo[3]. As citações deles, quando não são falsas ou cortadas e costuradas convenientemente, acabam sendo distorcidas por uma interpretação digna de pena. Assim eles agem com os santos dizeres dos padres, vitimando-as ou com leviandade ou com ignorância.

Esses erros podem ser divididos em 2, e desses 2 todos os demais decorrem como ramificações: O primeiro é misturar as diferentes acepções de “sou Pedro, sou sucessor de Pedro”; o segundo é pressupor que a autoridade petrina de Roma nega quaisquer outras autoridades, quando, na verdade, ela apenas se sobrepõem às demais autoridades, e, de cima, as exalta assegurando que possam ser obedecidas.


O PRÓPRIO SÃO GREGÓRIO MAGNO EXPLICA O SENTIDO

Após falar que os 3 são como uma única sé apostólica, o santo padre continua:

tudo de bom que ouço de você, isso eu atribuo a mim mesmo. Se você acredita em algo bom de mim, imputa isso aos seus méritos, visto que somos um Nele que diz: Para que todos sejam um, como Tu, Pai, estás em mim, e eu em Ti, para que também eles sejam um em nós João 17:21.[2]

Como eu mesmo fiz questão de alertá-los no primeiro artigo, várias vezes os santos padres alegam que alguém pode ser Pedro no sentido de que essa pessoa segue a fé de Pedro, logo, pelo dom da divina unidade, essa pessoa é Pedro. Mas essa é uma concepção por participação, de modo que alguém é Pedro à medida que ela segue o que Pedro fala, à qual é muitas vezes aplicada àqueles bispos que estão em comunhão com Roma. Já Roma é Pedro por uma diferente característica: Ela é Pedro por carregar o cargo de principado apostólico do chefe da Igreja, que é Pedro. Semelhante coisa é falada quanto à sucessão petrina, Antioquia é sucessora à medida que teve Pedro como seu primeiro bispo, Roma é sucessora de Pedro porque herdou os dons da primazia petrina, o que são coisas muito diferentes.


ASSIM COMO PEDRO É SEU, INÁCIO É MEU

Um perfeito exemplo do que falo está contido na epístola 39 do livro 5, São Gregório Magno diz a seguinte coisa:

Estas palavras, como vês, tiradas do que escreveste, coloco nas minhas epístolas, para que Vossa Bem-aventurança perceba, a respeito de Santo Inácio, que ele não é só teu, mas também nosso. Pois, como temos em comum o seu mestre, o Príncipe dos apóstolos, também nenhum de nós deve ter para si o discípulo desse mesmo Príncipe.[4]

São Gregório Magno diz, ao bispo de Antioquia, que no mesmo sentido que ambos tem Pedro, igualmente, ambos tem Santo Inácio. Ora, Santo Inácio foi o segundo bispo de Antioquia, não teve qualquer relação com Roma, como São Gregório poderia arrogar algo de Santo Inácio para si?

Muito simples, ambos, tanto Santo Inácio como São Gregório, foram defensores da fé da verdadeira Igreja. Logo, ambos são detentores da mesma fé, e desse modo São Gregório pode afirmar, “tenho Santo Inácio”. Já imaginou se eu usasse essa passagem para dizer que São Gregório era sucessor de Inácio? Seria vergonhoso... mas tem pessoas que fazem algo parecido.


O PRÓPRIO EULOGIUS CHAMA SÃO GREGÓRIO DE PAPA UNIVERSAL

O próprio Elogius (aquele que é chamado de igual por São Gregório) chama São Gregório de “papa universal”:

você julgou conveniente fazer uso de uma denominação orgulhosa , chamando-me Papa Universal. Mas imploro a Vossa Santidade mais doce que não faça mais isso[5]

Elogius estava apenas utilizando um título que foi dado ao bispo de Roma pelo concílio de calcedônia, e o próprio São Gregório sabe disso:

E, de fato, no Sínodo de Calcedônia e depois pelos Padres subsequentes, Vossa Santidade sabe que isso foi oferecido aos meus predecessores.[5]

Mas São Gregório Magno não gostava desse título pois ele era uma tentação ao orgulho. Posteriormente São Gregório Magno adotou o título de “servus servorum dei”, servos dos servos de Deus. Que vem da passagem da santa ceia, e que também refere-se a Pedro, como expus em uma artigo sobre a primazia Petrina.[6]


A UNIVERSALIDADE DA IGREJA ROMANA RECONHECIDA

Elogius não fez algo atípico, a autoridade universal da Igreja Romana já era amplamente conhecida:

Depois, recordo-me de como fui alimentado no colo e no seio da vossa santíssima Igreja Romana, e aí com a ajuda de Deus progredi. E como devo ter a ousadia de ousar me opor àquela santíssima sé, que transmite suas leis à Igreja universal[7]

Roma é a santíssima sé que transmite suas leis à Igreja Universal.


ROMA TEM AUTORIDADE DE PEDRO; O TÍTULO DE "BISPO UNIVERSAL" É ROMANO; ROMA É A SANTA SÉ APOSTÓLICA

Ao saber que João de Constantinopla tinha realizado um sínodo se auto intitulando “bispo universal” o pontífice romano manda anular todas as atas do concílio, e o faz pela autoridade de Pedro:

Agora, oito anos atrás, no tempo de meu predecessor de sagrada memória Pelágio, nosso irmão e companheiro bispo João na cidade de Constantinopla, buscando ocasião de outra causa, realizou um sínodo no qual tentou se intitular Bispo Universal. Que tão logo meu dito predecessor soube, despachou cartas anulando pela autoridade do santo apóstolo Pedro os atos do citado sínodo; das quais tive o cuidado de enviar cópias a Vossa Santidade.[8] 

São Gregório Magno diz que o título de “bispo universal” foi dado pelo concílio de calcedônia ao pontífice da sé apostólica, a sé da Igreja romana:

Pois, como sabe Venerável Santidade, este nome de Universalidade foi oferecido pelo santo Sínodo de Calcedônia ao pontífice da Sé Apostólica, que pela providência de Deus eu sirvo.[8]

São Gregório diz que o título de “bispo universal” foi dado pelo concílio de calcedônia ao pontífice romano em homenagem a Pedro, príncipe dos apóstolos: 

Certamente, em homenagem a Pedro, Príncipe dos apóstolos, foi oferecido pelo venerável Sínodo de Calcedônia ao pontífice romano.[9]

Observem que São Gregório deixa claro que a Igreja de Roma é a sé apostólica.


QUEM PODE DUVIDAR QUE CONSTANTINOPLA ESTÁ SUJEITA À SÉ APOSTÓLICA?

São Gregório Magno descreve os ordenamentos realizados por ele como “serviços divinos”:

Alguém vindo da Sicília me disse que alguns amigos dele, sejam gregos ou latinos que eu não conheço, como se movidos pelo zelo pela sagrada Igreja Romana, murmuram sobre meus arranjos [isto é, do serviço divino], dizendo: Como ele pode estar arranjando de forma a manter a Igreja Constantinopolitana sob controle, quando em todos os aspectos ele segue seu uso?[10]

E nesse mesma carta ele questiona:

Quanto ao que dizem sobre a Igreja de Constantinopla, quem pode duvidar que está sujeita à Sé Apostólica , como o mais piedoso senhor o imperador e nosso irmão o bispo daquela cidade continuamente reconhecem?[10]

Observem que até o Bispo de Constantinopla reconhece a autoridade de Roma. E o Santo acrescenta dizendo que continuará a corrigir o que qualquer Igreja cometer de ilícito:

Porém, se esta ou qualquer outra Igreja tem algo de bom, estou preparado para o que é bom imitar até mesmo meus inferiores, enquanto os proíbe de coisas ilícitas. Pois é tolo aquele que pensa primeiro a si mesmo de maneira a desprezar aprender todas as coisas boas que possa ver.[10]

Devemos todos lamentar, pois, ao contrário do que o Santo Padre cria, existem pessoas que ousam dizer que Constantinopla não está subjugada à Igreja Romana.


POR ORDEM DE DEUS SOBRE TODAS AS IGREJAS

E São Gregório Magno também instrui:

Na medida em que é manifesto que a Sé Apostólica está, por ordem de Deus, estabelecida sobre todas as Igrejas, há, entre os nossos múltiplos cuidados, pedido especial de nossa atenção, quando se espera a nossa decisão com vista à consagração de um bispo.[11]


PENSAVA QUE PEDRO NÃO COMANDAVA A IGREJA

Para finalizar as citações gostaria de terminar com as palavras de São Gregório Magno sobre a primazia petrina, já que os "ortodoxos", ou pelo menos alguns, insistem em dizer que Pedro não tem uma autoridade sobre os demais apóstolos, e que ele é apenas primeiro de modo representativo, "primeiro entre os iguais"(sic).Vejamos:

Para todos os que conhecem o Evangelho , é evidente que, pela voz do Senhor, o cuidado de toda a Igreja foi confiado ao santo Apóstolo e Príncipe de todos os Apóstolos, Pedro. Pois a ele se diz: Pedro, você me ama? Alimente minhas ovelhas João 21:17.[9]

Eis que ele recebeu as chaves do reino celestial, e foi dado a ele poder para ligar e desligar, o cuidado e o principado de toda a Igreja foram confiados a ele[9]


ALGUNS QUESTIONAMENTOS

Temendo que eu, ao defender o Santo Padre da ignorância dos hereges, seja também vítima da incapacidade de interpretação deles, irei fazer algumas questões para que os falseadores saibam que são obrigados, por lógica, a concordar comigo:

Se Antioquia era sucessora de Pedro assim como Roma, então por que o título de bispo universal, que foi dado pela honra ao apóstolo Pedro, foi dado apenas a Roma, pelo concílio de Calcedônia?

Se Antioquia tinha uma autoridade semelhante à de Roma, então por que Eulogious, que chamou a si próprio de Pedro, chama São Gregório Magno de bispo Universal?

Se Antioquia não tem Pedro no sentido em que eu expressei (eles têm Pedro pois guardam a fé do apóstolo a não se separar da Igreja Universal, por isso tem a fé de Pedro, e desse modo são Pedro), então por que São Gregório Magno diz que Santo Inácio é do bispo de Roma assim como Pedro é do bispo de Antioquia?

Se a Igreja de Roma não tem Pedro no outro sentido que expressei (pois é a Igreja que obteve a sucessão do poder de pastor universal do chefe dos apóstolos, que é Pedro), então por que o concílio de calcedônia dá o título de bispo universal APENAS ao bispo de Roma, sendo que o título é dado pela honra ao apóstolo Pedro?

Se a Igreja de Roma não é aquela que herdou a autoridade de Pedro, então por que a Igreja de Roma, pela sua única vontade, anulou todo um concílio pela autoridade do apóstolo Pedro?

Se a sé apostólica não é comandada pelo bispo de Roma, então por que São Gregório Magno disse que o concílio de calcedônia deu o título de bispo universal ao pontífice da sé apostólica? Sendo que o concílio dá esse título ao pontífice romano.

Se a Igreja de Roma não tem autoridade sobre a Igreja de Constantinopla, então por que São Gregório Magno ironiza dizendo: "Quanto ao que dizem sobre a Igreja de Constantinopla, quem pode duvidar que está sujeita à Sé Apostólica"? 

Se a Igreja de Constantinopla não está sujeita à Igreja de Roma, então por que o próprio bispo de Constantinopla partilhava dessa visão?

Se a Igreja de Roma não era a chefe de todas as Igreja, então por que, ao referir-se a ela, é falado:"E como devo ter a ousadia de ousar me opor àquela santíssima sé, que transmite suas leis à Igreja universal"?

Se a Igreja de Roma não tem autoridade sobre todas as Igrejas, então por que São Gregório Magno disse: "Na medida em que é manifesto que a Sé Apostólica está, por ordem de Deus, estabelecida sobre todas as Igrejas"?

VERDADE SOBRE O CASO

Vemos aqui a baixeza dos nossos inimigos, que, animados pelo espírito do anticristo, tentam transformar a mais piedosa das humildades em uma motivação para sair das asas da Igreja de Cristo.

Portanto, há demonstrado que o pontífice romano é o Bispo Universal[5], título concedido ao romano pontífice pelo concílio de calcedônia[5],e que transmite suas leis à Igreja Universal[7]. Que o romano pontífice é o pontífice da Sé Apostólica[8], que recebeu seu título de Bispo Universal em honra ao apóstolo Pedro[9], e que está acima de todas as todas as Igrejas[11].


[1] Link do artigo "All Bishops Are Successors of Peter (Florilegium)"

[2] Livro 7, letra 40 do Registro Epistolarum de São Gregório