Parte 1 Parte 2 

Essa é a segunda parte de uma série de artigos que tratam da primazia petrina, a autoridade do apóstolo Pedro sobre os demais membros da Igreja. A primeira parte tratou das palavras do nosso Senhor Jesus Cristo[1] instituindo esta autoridade, nesta segunda parte daremos continuidade demonstrando que, já na bíblia, podemos ver essa característica de proeminência do apóstolo Pedro sobre os demais.

Este artigo não pode, jamais, ser dissociado do primeiro artigo, ao preço de perder o seu valor. Com isso em mente vamos a ele:


A PRIMAZIA PETRINA NOS PRIMEIROS DIAS DA IGREJA


Desde que Pedro foi instituído pelo nosso Senhor como a pedra sobre a qual será edificada a Sua Igreja, como o portador das chaves do Reino dos Céus, o pastor encarregado de apascentar as ovelhas, e o apóstolo que confirma os seus irmãos, ele demonstrou sua característica de excelência em relação aos demais apóstolos. Citaremos várias passagens bíblicas que demonstrarão o caráter excepcional desse apóstolo.


Pedro decide eleger um apóstolo para substituir Judas Iscariotes

Em um daqueles dias, levantou-se Pedro no meio de seus irmãos, na assembleia reunida que constava de umas cento e vinte pessoas, e disse:
“Irmãos, convinha que se cumprisse o que o Espírito Santo predisse na escritura pela boca de Davi, acerca de Judas, que foi o guia daqueles que prenderam Jesus.
Ele era um dos nossos e teve parte no nosso ministério.
(Tornou-se este fato conhecido dos habitantes de Jerusalém, de modo que aquele campo foi chamado na língua deles Hacéldama, isto é, Campo de Sangue.)
Pois está escrito no Livro dos Salmos: Fique deserta a sua habitação, e não haja quem nela habite; e ainda mais: Que outro receba o seu cargo 
Convém, pois, que destes homens que têm estado em nossa companhia todo o tempo em que o Senhor Jesus viveu entre nós,
a começar do batismo de João até o dia em que de nosso meio foi arrebatado, um deles se torne conosco testemunha da sua Ressurreição”.

Atos dos Apóstolos 1, 15-22


Nesta passagem vemos que Pedro, ainda antes do dia de pentecoste, é aquele que decide escolher alguém para tomar o lugar de Judas no ministério e apostolado.



Pedro é o primeiro a discursar no dia de pentecoste e instruir a multidão 

Pedro, então, pondo-se de pé em companhia dos Onze, com voz forte lhes disse: “Homens da Judeia e vós todos que habitais em Jerusalém: seja-vos isto conhecido e prestai atenção às minhas palavras.

Atos dos Apóstolos 2, 14

Após a descida do Espírito Santo, no dia de Pentecoste, Pedro é o primeiro a pregar a palavra. Além disso também é Pedro quem instrui a multidão em como devem proceder:

Ao ouvirem essas coisas, ficaram compungidos no íntimo do coração e indagaram de Pedro e dos demais apóstolos: “Que devemos fazer, irmãos?”.
Pedro lhes respondeu: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo"

Atos dos Apóstolos 2, 37-38



É Pedro quem abre as portas da Igreja aos gentios

Então, Pedro tomou a palavra: “Porventura pode-se negar a água do batismo a estes que receberam o Espírito Santo como nós?”.
E mandou que fossem batizados em nome de Jesus Cristo. Rogaram-lhe então que ficasse com eles por alguns dias.

Atos dos Apóstolos 10, 47-48


Pedro prega a palavra e batiza o primeiro não judeu, o centurião Cornélio, abrindo as portas da fé aos pagãos. Um ato cuja proeminência será narrado pelo próprio apóstolo em seu discurso no concílio de Jerusalém: “Irmãos, vós sabeis que já há muito tempo Deus me escolheu dentre vós, para que da minha boca os pagãos ouvissem a palavra do Evangelho e cressem." (At 15, 7). Ouvimos assim, da boca do próprio Pedro, que ele foi o escolhido dentre todos os apóstolos para tal feito.


Pedro fala universalmente no concílio de Jerusalém

Reuniram-se os apóstolos e os anciãos para tratar dessa questão.
Ao fim de uma grande discussão, Pedro levantou-se e lhes disse: “Irmãos, vós sabeis que já há muito tempo Deus me escolheu dentre vós, para que da minha boca os pagãos ouvissem a palavra do Evangelho e cressem.
Ora, Deus, que conhece os corações, testemunhou a seu respeito, dando-lhes o Espírito Santo, da mesma forma que a nós.
Nem fez distinção alguma entre nós e eles, purificando pela fé os seus corações.
Por que, pois, provocais agora a Deus, impondo aos discípulos um jugo que nem nossos pais nem nós pudemos suportar?
Nós cremos que pela graça do Senhor Jesus seremos salvos, exatamente como eles”.
Toda a assembleia o ouviu silenciosamente. Em seguida, ouviram Barnabé e Paulo contar quantos milagres e prodígios Deus fizera por meio deles entre os gentios

Atos dos Apóstolos 15, 6-12

O concílio inicia-se com a intenção de resolver uma questão: “A circuncisão era necessária para a salvação, a Igreja deveria circuncidar seus fiéis?”; nele participam tanto os apóstolos como os anciãos (que são os presbíteros). Primeiramente vemos que Pedro levanta-se "ao final de uma grande discussão", o que indica que ele vem para encerrar a questão; e "Toda a assembleia o ouviu silenciosamente", o que indica sua proeminência e autoridade no local. 

Pedro diz que ele foi escolhido em meio a todos (tanto entre os presbíteros como entre os apóstolos) para que da sua boca os pagãos ouvissem as palavras do Evangelho e cressem, fato que também demonstra sua proeminência como já explicado anteriormente; e também segue dizendo “Nós cremos” (At 15, 11), falando universalmente, em nome de todos os fieis da Igreja.  Notem que o concílio é feito em Jerusalém, cuja Igreja era presidida por Tiago, mas é Pedro quem faz o discurso doutrinal mostrando qual é a fé da Igreja.

E, em seguida, Tiago vem a fazer o seu discurso, e assim ele começa: 

Depois de terminarem, Tiago tomou a palavra: “Irmãos, ouvi-me” – disse ele.
"Simão narrou como Deus começou a olhar para as nações pagãs para tirar delas um povo que trouxesse o seu nome.
Ora, com isto concordam as palavras dos profetas, como está escrito:"

Atos dos Apóstolos 15, 13-15

Observem que Tiago monta seu discurso em cima da posição de Pedro (At 15, 14) e a confirma em (At 15, 15).


Por isso, julgo que não se devem inquietar os que dentre os gentios se convertem a Deus.
Mas que se lhes escreva somente que se abstenham das carnes oferecidas aos ídolos, da impureza, das carnes sufocadas e do sangue.

Atos dos Apóstolos 15, 19-20

Observem que enquanto Pedro fala por toda a Igreja "nós cremos" (At 15,11), Tiago da o seu próprio julgamento "por isso, julgo" (At 15,19). Portanto, enquanto Pedro faz um discurso doutrinal, mostrando o que a Igreja crê, Tiago faz um discurso pastoral, baseando-se na doutrina exposta por Pedro e recomendando uma abordagem para a exposição da doutrina.



Pedro é, invariavelmente, citado em primeiro nas listas dos doze apóstolos.

Eis os nomes dos doze apóstolos: o primeiro, Simão, chamado Pedro; depois André, seu irmão. Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão.
Filipe e Bartolomeu. Tomé e Mateus, o publicano. Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu.
Simão, o cananeu, e Judas Iscariotes, que foi o traidor.

São Mateus 10, 2-4

Escolheu estes doze: Simão, a quem pôs o nome de Pedro;
Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, aos quais pôs o nome de Boanerges, que quer dizer Filhos do Trovão.
Ele escolheu também André, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu; Tadeu, Simão, o Zelador;
e Judas Iscariotes, que o entregou.

São Marcos 3, 16-19

Ao amanhecer, chamou os seus discípulos e escolheu doze dentre eles que chamou de apóstolos:
Simão, a quem deu o sobrenome de Pedro; André, seu irmão; Tiago, João, Filipe, Bartolomeu,
Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu; Simão, chamado Zelador;
Judas, irmão de Tiago; e Judas Iscariotes, aquele que foi o traidor

São Lucas 6, 13-16

Vejam que as três listas não guardam uma ordem fixa, os nomes dos apóstolos parecem ser citados sem obedecer qualquer tipo de ordenamento, com exceção de dois. Primeiramente Pedro, que é invariavelmente citado primeiro, e depois Judas, que é invariavelmente citado por último. O que indica que Pedro é citado primeiro por sua posição de excelência entre os apóstolos, e assim também ocorre com Judas, pelo motivo oposto. 



Pedro é o primeiro apóstolo a quem Jesus aparece após sua ressurreição

Eu vos transmiti primeiramente o que eu mesmo havia recebido: que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras;
foi sepultado, e ressurgiu ao terceiro dia, segundo as Escrituras;
apareceu a Cefas e, em seguida, aos Doze.

I Coríntios 15, 3-5

Assim como Pedro foi citado primeiro em todas as listas dos doze apóstolos ele também foi o primeiro apóstolo a ser visitado por Cristo após sua ressurreição.



Paulo viaja para conhecer Pedro


Três anos depois subi a Jerusalém para conhecer Cefas, e fiquei com ele quinze dias.
Dos outros apóstolos não vi mais nenhum, a não ser Tiago, irmão do Senhor.

Gálatas, 1, 18-19

Observem a honra e o prestígio que o apóstolo são Paulo dá ao apóstolo são Pedro. Ele, que mesmo tendo recebido revelação diretamente de Jesus Cristo, não se privou de ver o príncipe dos apóstolos, mas o sobressaiu aos demais ao dizer que sua viagem foi feita com a intenção de conhecer apenas aquele específico apóstolo. 



Considerações Finais

Vemos aqui algumas passagens que podem demonstrar a preeminência petrina, pois há quem diga que mesmo o apóstolo Pedro não considerava aquilo que foi instituído por Jesus Cristo de maneira tão clara, o que é um absurdo. E dessa maneira devemos ler todas essas passagens como um todo, não desprezando jamais àquelas palavras gloriosas do nosso Senhor que devem nos guiar ao interpretar as coisas de Deus nas coisas dos homens. Aquilo que podemos enxergar como uma grande coincidência é, na verdade, a diligência do fundador da nossa Igreja que não quis que suas promessas pudessem ficar presas apenas em palavras, como debaixo de um alqueire, mas, exaltadas pelos atos, pudesse iluminar os corações de todos os fieis. Amém.
 

[1] A Primazia Petrina nas Palavras do Nosso Senhor Jesus Cristo