Escrava branca guerra



Ainda que não seja um fenômeno relativamente tão novo dentro da historiografia, o estudo sobre o tráfico de escravos Brancos na história moderna pode ser considerado um Tabu entre os mais emocionados "historiadores" ocidentais, tal como no Brasil. 

A total indiferença sobre o assunto não pode ser generalizada. Muitos dos estudos que possuímos hoje em dia se dão por conta de grandes pesquisadores e historiadores das academias europeias, Charles Verdelin, Salvatore Bono, Alessandro Stanziani esses caras são, talvez, os maiores especialistas no tema.  Bom, mas qual motivo do negligenciamento? Obviamente que as questões ideológicas estão envolvidas, ocultar esse tema é de interesse para joguetes políticos, nesse caso não tenho muita coisa a esclarecer sobre isso.

Entretanto,  podemos com precisão ter uma estimativa da extensão do tráfico de escravos Brancos? Uma estimativa exata é bem difícil, Mas,  podemos inferir algumas aproximações, e elas nos mostram que esse Tráfico pode ser considerado superior em números ao tráfico negreiro trans-atlantico mesmo sendo Paralelo ou justaposto ao mesmo. Por exemplo, segundo os estudos e informações do historiador Alessandro Stanziani em seu livro ( Bondage Labor and Rights in Eurasia from the Sixteenth to the Early Twentieth Centuries), as informações quantitativas sobre a rota comercial entre a Índia, a Pérsia e o interior da Ásia são podem esclarecer vários elementos de um vasto comércio de escravos moderno envolvendo pessoas de ascendência europeia e do Cáucaso, além de persas, iranianos e até indianos comercializados por essas rotas. Por sua vez, esse comércio esteve eminentemente ligado a uma rede de colaboração econômica que envolvia grandes países do sul da moderna Europa ( Itália) como Gênova e Veneza. Como um todo, esse historiador estima que havia cerca de 200.000 escravos indianos em Bukhara, aos quais podemos adicionar outros 200.000 escravos iranianos na mesma região. Segundo ele os arquivos otomanos e russos fornecem bons dados sobre a terceira rede, conectando o interior da Ásia, Rússia e Crimeia. 

Os russos apreendidos pelos tártaros entre o século XVI e a primeira metade do século XVII são estimados em cerca de 200.000. Muitos deles foram vendidos aos otomanos, porém,  uma porção indeterminada foi mantida no interior da Ásia e na Crimeia. No entanto, entre os séculos XIV e XVI, os tártaros da Crimeia vendiam pelo menos 2.000 escravos por ano, ou um total de 400.000, aos otomanos. Para Alessandro podemos considerar que; primeiro, o tráfico de escravos na Ásia Central e na Rússia foi extremamente importante na era pré-moderna e concomitante a mesma, e não está muito abaixo da importância do tráfico de escravos posterior em outras áreas. Ou seja, onze milhões de pessoas que foram comercializadas ao longo do Trans-Saara, Mar Vermelho, e as rotas do Oceano Índico entre os séculos VII e XX, assim como onze milhões de escravos na rota transatlântica, do século XV ao XIX. Uma compilação de estimativas indica que os tártaros da Crimeia apreenderam cerca de 1.750.000 ucranianos, poloneses e russos nos séculos seguintes, de 1468 a 1695. As estatísticas de exportação da Crimeia indicam que cerca de 10.000 escravos por ano, incluindo circassianos, foram para os otomanos, sugerindo um total de aproximadamente 2.500.000 de 1450 a 1700, De 1800 a 1909, os otomanos importaram cerca de 200.000 escravos do Cáucaso, principalmente circassianos, com outros 100.000 chegando com seus senhores circassianos nas décadas de 1850 e 1860.

Pra se ter idéia, em média, entre 1800 e 1875, os otomanos importaram 18.000 escravos por ano do Cáucaso e da Crimeia, para um total de 1.350.000 escravos. Os dados disponíveis, mas ainda incompletos, fornecem os seguintes números para as exportações de escravos do interior da Ásia e da Rússia: 4.000.000 para o Império Otomano; 400.000 pelos portos de Veneza e Gênova no Mar Negro; e 700.000 persas e indianos negociados na Ásia Central. 

Apesar disso, ele alega não ter dados sobre o comércio interno, o comércio de caravanas e o número de pessoas que morreram durante o transporte, se for considerar isso aí a coisa pode ser ainda mais complexa. Portanto, nas suas estimativas cerca de 6.000.000 a 6.500.000 de pessoas foram escravizados nas rotas da Ásia Central entre os séculos XI e XIX. 

Deste ponto de vista, a história da escravidão na Rússia e na Ásia Central confirma o que estudos anteriores sobre a escravidão mediterrânea já mostraram, ou seja, a importância da escravidão pré-colonial, em particular fora da rota transatlântica e, além disso, a importância dessas primeiras rotas em termos de organização do trabalho, normas legais e poderes transnacionais. O tráfico de escravos na Rússia e na Ásia Central estava ligado à estabilização dos poderes territoriais, à evolução da guerra e ao monopólio da violência. Para esse historiador,  a história dos prisioneiros de guerra e do kholopy na  Rússia está ligada à  expansão da Moscóvia e da Rússia e à evolução das  relações sociais internas dessas regiões. Entre os séculos XIII e XVI, cativos e escravos eram comumente trocados entre os canatos, a Pérsia Safávida, o Império Bizantino, a Índia, Gênova e  Veneza formando uma extensa rede que abastecia o Mar Negro, Regiões de toda Ásia Central, Cáucaso, Oriente médio o Egito mediterrânico passando por todo Norte da África chegando na península ibérica. 

Podemos considerar ainda os escravos importados pelo  Canato de Khiva do século 17 ao 19. Somente durante a primeira metade do século XIX, cerca de 1 milhão de persas, bem como um número desconhecido de russos, foram escravizados e transportados para os canatos da Ásia Central segundo o historiador Jefrey Eden. 

E as rotas e o tráfico de brancos ( Saqalibas no mediterrâneo? Segundo  historiador e especialista, Salvatore Bono ele considerou que entre 1500 até 1779 os Otomanos tenham importado nda menos que 5.725,000 de escravos Brancos contabilizando todas as regiões que Citei anteriormente e europeus mediterrânicos.

Para o historiador  ao Robert C. Davis, só  Magreb  teria importado um total entre 1.200.000 e 1.500.000 de escravos europeus em um período entre 1500 a 1800.

Mas voltando a Bono,  segundo ele no período 1500-1650 existia uma presença média de 200.000 escravos de origem  turco-árabe (no sentido de muçulmanos) na Península Ibérica, como afirmam vários estudiosos; para os territórios italianos já foi dito um total de 60.000. Tendo em conta as presenças dispersas no resto da Europa (alguns milhares em Malta, tantos ou talvez mais nos territórios do Levante sob autoridades europeias, como Chipre até 1570, outros na França, nos territórios dos Habsburgos e assim por diante) total de 300.000 pessoas. Deste total, um volume de negócios anual de 5% corresponde a 15.000 novas chegadas, o equivalente a 2.250.000 em um século e meio, são quase 3 milhões de pessoas escravizadas por europeus na região. 

Ele ainda afirma para o meio século de 1651 a 1699 deve-se levar em conta uma redução gradual e significativa, portanto uma média de apenas 50.000 escravos, com um faturamento anual de 2.500 (total de 125.000) um declínio adicional para o século seguinte, digamos 30.000 em média, com um influxo geral de 150.000 indivíduos. Se olharmos apenas para a Europa mediterrânea ocidental, esse nível de presença servil pode parecer muito alto, mas não é quando você considera a Europa balcânica, que foi atravessada por conflitos ao longo do século, e o fato de que as capturas de escravos continuaram nas primeiras décadas. do século XIX, até 1830.

Para Bono, se considerarmos de forma unitária os escravos europeus, muçulmanos, escravos Berberes , até mesmo os africanos negroides e outros em todo o mundo mediterrâneo e ao longo de três séculos e mais, levando em conta a diversidade ainda muito acentuada de componentes e destinos individuais, e tentamos para dar uma medida global a esse fenômeno histórico - na consciência da ampla e arriscada aproximação - devemos acreditar que pelo menos 7 milhões até  9 milhões de seres humanos estiveram envolvidos na escravidão mediterrânea, contudo como nosso intuito aqui é esclarecer apenas a brancos negociados podemos concluir o seguinte; 6 milhões e meio de escravos na Ásia Central seja com desembarque para o mediterrâneo ou enviado para os interiores do Caspio, e Oriente médio dentre esses 6 milhões e meio,  pelo menos  5 milhões foram importados por otomanos, somando a isso os 3 milhões capturados pelo Kanato da Criméia, chegamos a 8 milhões. Se somarmos a isso os 2 milhões e  quinhentos enviados para Europa chegamos a 10 milhões, com mais 1 milhão e meio de escravos no Magreb e mais 725 mil escravos Brancos enviados pelo Norte da África aos mercados otomanos, concluímos um total de 12.225,000 milhões de escravos Brancos negociados entre o século XI ao século XIX em todas essas rotas, obviamente que estamos trabalhando com estimativas, esses números podem ser ainda superiores. 


Referências:

Salvatore Bono Schiavi Una storia mediterranea (XVI-XIX secolo).

Jefrey Eden Slavery and Empire in Central Asian.

Alessandro Stanziani, Bondage Labor and Rights in Eurasia from the Sixteenth to the Early Twentieth Centuries.