Um grande filósofo medieval esquecido, mas transformado em relíquia e propriedade/ patrimônio histórico da filosofia ocidental, gênio pela capacidade de síntese de escolas distintas como a platônica e aristotélica, faço um pequeno excerto sobre a noção básica de Henry sobre ser e essência, sem mais delongas vamos lá.
Henry é notório por distinguir dois tipos de ser; dentre eles, ser de existência real (esse actualis existiae) e ser de essência (esse essentiae).
Eis como Henry apresenta os dois tipos de ser no Quodlibet I, q:
O primeiro ser pertence essencialmente (essentialiter) à essência de um indivíduo, ainda que por meio de participação (participativa), na medida em que a essência tem um exemplar formal na mente Deus. Daí que por isso ela se enquadra naquele ser que é essencialmente comum às dez categorias, digamos assim. Pois bem, esse tipo de ser é o ser pertencente à definição de uma coisa (esse rei definitivum). Já o segundo ser é tal que uma criatura não o tem de sua própria essência, porém, somente de Deus, no estante em que esse indivíduo é efeito da volitividade divina segundo o exemplar da coisa na mente divina, fica bem claro aqui uma grande dose de Neoplatonismo no pensamento de Henry.
Alem do mais, o que é importante nessa passagem é o contraste entre esses dois tipos de ser: a existência real é algo extrínseco à essência de um objeto, algo que um objeto recebe de sua causa eficiente (e, em última análise, de Deus como o primeiro elemento eficiente ou causa eficiente. Entretanto, ao passo que o ser essencial lhe é intrínseco. Como fica evidente, a origem de ambos os tipos de ser ( ens) está no próprio Deus, contudo, existe uma precedência de o ser essencial está mais imediatamente ligado à essência do que a existência real. Ora, tal diferença que fica destacada, é dada pela casualidade da existência. Destarte, caso a existência real é um tanto acidental, então não pode ser objeto de nenhum conhecimento epistemológico ou em gnosiologia. Já que o conhecimento preocupa-se de modo necessário e principalmente com o que é essencial ao objeto conhecido.
No terceiro Quodlibet, Henry descreve o seguinte como um esclarecimento adicional do ser essencial;
"Tal ser não pertence a nada a não ser que haja uma razão exemplar (ratio exemplaris) dele no intelecto divino através do qual é capaz de existir na realidade extra-mental, de modo que como uma coisa tem de uma relação e respeito (ex relationshipe et respectu) ao plano de Deus quanto à causa eficiente de que é um ser em efeito (ens in ef ectu), portanto tem de uma relação e respeito ao plano de Deus quanto ao exemplar forma que é um ser por essência (ens per essentiam)."
Nesse caso ai nem a existência nem o ser essencial são uma relação em si. , Deus, e por meio das relações existentes entre eles, o primeiro recebe o ser, entretanto, Isso tornaria as criaturas independentes da relação com Deus; mas as criaturas existem apenas como resultado da produção divina, ou seja, como o ponto teleologico (terminus) de tal produção, e como arquétipo ante rem.
Assim, sem a relação existente em primeiro lugar, não há nada que possa ser relacionado a Deus. A fala de ser resultante de uma relação com Deus significa simplesmente que as criaturas são dependentes de sua causa primeira porque são causadas por Deus na medida em que Deus é sua causa formal e eficiente. No entanto, as duas relações segundo as quais as criaturas se relacionam com a causa primeira não são apenas distintas quanto ao que se referem em Deus e ao que causam nas criaturas, mas também diferem uma da outra na medida em que a relação às idéias de Deus é eterna, enquanto a relação com Deus como primeira causa eficiente é apenas fortuita, contingente e efêmera. Nesse sentido, o ser existencial, é dependente de sua relação com Deus.
Em resumo. Henry argumentou que não apenas as criaturas individuais/ singulares têm um ser correspondente à sua quididade- o ser da essência ou esse essentiae , elas também têm um ( aliquitas ). Dessa forma, o ser criado por Deus, não é o ser da existência real, porém o ser da essência, também chamado esse latissimum ( ou esse communissimum , a forma mais geral de ser.
Já no que tange à determinação ontológica da essência com respeito à sua efetivação causal, concreta é uma delimitação ou especificação desse ser. Portanto, o esse essentiae precede, depois vem esse aliquid per essentiam procedendo, além disso, sendo uma coisa pela essência, e finalmente toda a quididade dessa maneira constituída é posta em ato.
Referências;
https://plato.stanford.edu/entries/henry-ghent/#BeiThi
A Companion to Henry of Ghent.
Quodlibetal Questions on Free Will.
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