Dentro de um âmbito Gnosiológico, doutor sutil distingue entre conhecimento intuitivo e conhecimento abstrativo. O conhecimento intuitivo é o conhecimento de um objeto como presente em sua existência real, e seria contra a natureza do conhecimento intuitivo se houvesse conhecimento de um objeto não realmente existente e presente. contudo, Scotus distingue entre o conhecimento intuitivo perfeito, que é o conhecimento imediato de um objeto como presente, e o conhecimento intuitivo imperfeito, que é o conhecimento de um objeto existente como existente no futuro, como antecipado, ou como existente no passado.

O conhecimento abstrativo, por outro lado, é o conhecimento da essência de um objeto considerado em abstração de sua existência ou inexistência. A diferença entre conhecimento intuitivo e conhecimento abstrativo não é, então, que o primeiro é o conhecimento de um objeto existente e o segundo é o conhecimento de um objeto inexistente, mas que o primeiro é o conhecimento de um objeto como existente e realmente presente. E isto é, intuído no sentido próprio, enquanto o último é o conhecimento da essência de um objeto considerado em abstração da existência, caso o o objeto realmente existe ou não, dai diz Gilson;

"Pode haver conhecimento abstrativo de um objeto inexistente tanto quanto de um objeto existente, mas só pode haver conhecimento intuitivo de um objeto existente como existente."

Teríamos que acrescentar as palavras "e presente", porque " é contra a natureza do conhecimento intuitivo que seja de algo que realmente não existe e não está presente.

Por sua vez,  a essência real ou natureza de uma coisa. (diferente da ecceidade, que faz o indivíduo particular ser o que é). O quê de uma coisa é um universal, no sentido em que muitos particulares diferentes podem compartilhar as mesmas propriedades quididadivas. O conhecimento quiditativo seria o conhecimento da essência real ou da natureza de um objeto. Para Duns Escoto, a natureza essencial dos objetos e apreendida através do intelecto, do conhecimento intelectual. Alem disso, e também por conceitos universais, fi cções puras do intelecto, contudo, e porque realmente possuem referência nas coisas. O conhecimento intelectual possui referência na realidade concreta por representação, e caso isso aconteça, ele não pode ser distinguido totalmente das coisas em si.

  “Em algum aspecto, deve haver uma identidade entre a coisa nela mesma e o conhecimento na alma”.

Nesse interim, pode haver identidade entre as duas coisas, mas também há distinção, uma vez que podemos diferenciá-los, e é isso que torna a coisa cognoscível. o objeto existente é singular, o conhecimento é universal. A quididade é o que torna a coisa real concreta, e ela deve existir necessariamente em todas as coisas concretas. Dessa forma, o intelecto pode conhecer através das representações/ referências desses objetos.

A natureza comum é o que permite que haja algo inteligível na coisa, que pode ser apreendido pelo intelecto mesmo sem sua existência atual.  Da mesma forma, a substância da coisa é o que a torna singular. Scotus retoma de Aristóteles a noção de singularidade substancial, onde se compreende que não é preciso acrescentar nada além da substância, para que algo seja singular.

Contudo, o grande diferencial, e que para Duns Escoto essa substância tem uma natureza, e a natureza é universal. a querela  está na universalização da natureza. Quando falamos em essência, podemos dizer que ela é universal, mas através desse universal podemos também singularizar, ou individualizar, alem disso,  existe unidade na singularidade. Como existem diversos tipos de singularidades, existem diferentes tipos de unidades.

Para o sutil,  a unidade pretendida é a unidade verdadeira, real, a parte rei. O que possibilita a separação das coisas é o que as diferencia. São os diferentes tipos de unidades que tornam possíveis as distinções, ou separações, e o intelecto humano só pode conhecer desse modo, e por causa das unidades existentes nas universalidades, ou suas reais identificações, diz Corpleston; 

“Diante disto, podemos definir a identidade real como aquela que precede qualquer ato do intelecto e, consequentemente, a unidade real como aquela que prcede qualquer ato do intelecto. A unidade real, portanto, não é somente aquela da coisa existente atualmente a parte, mas é a unidade de tudo o que se dá independente do ato do intelecto. A unidade da razão é aquela que só existe no modo de conceber.”

tratar da abstração e unidade da forma, Duns Escoto a divide em duas partes:  unidade maior e unidade menor, enquanto as maiores são formadas por muitos singulares  que compõem um todo, e as menores, por cada parte menor desse todo. As quididades são reais, e Ele afirma que a unidade da natureza é menor que a numérica, e, logo, a natureza não pode ser singular. As unidades reais da natureza não são singulares também.  Elas não podem ser medidas através de unidades numéricas, porém,  de unidades próprias da natureza menores que a numérica. como e dito por Corpleston; 

              “Ora, mostrar isto é mostrar que, além dos indivíduos, há certas entidades não-individuais em si, as naturezas comuns ou quididades, que merecem ser chamadas de “reais”, pois existem independente de qualquer ato do intelecto”.

Existe uma unidade e realidade além da numérica, de três maneiras:


A) Um fato exige uma certa unidade (por exemplo, o gênero) 

B) Esta unidade do fato é real (por exemplo, a espécie) 

C) É uma unidade real e não numérica (faculdades sensitivas que os percebem, se há semelhança entre dois objetos distintos, então essa semelhança não pode ser caracterizada como unidade numérica).


Dessa forma, a natureza não é singular nem universal, contudo  transita entre as duas coisas. A natureza é neutra, já que comporta o que existe de comum entre um e outro, entre o singular e o universal. É, dessa maneira, anterior a eles. Por isso uma realidade menor que a numérica, diz Scotus;

  “Para que o conhecimento tenha uma relação com as coisas e não seja uma puraficção do espírito, é necessário que haja algo em comum entre as coisas singulares e os conceitos universais no intelecto. Este algo em comum, portanto, deve ser anterior tanto ao singular quanto ao universal, pois se for um deles, não poderá ser o outro, e, destarte, não haverá comunicação entre eles”. 

 Trata-se de uma realidade da forma, realidade da essência nela mesma. Realidade que a natureza possui quando está em relação com a universalidade e singularidade, e que a torna cognoscível.

Entretanto, devemos nos lembrar que o intelecto agente tem um papel fundamental nesse processo, que é produzir a espécie inteligível que possibilita a apreensão por representação do que existe de cognoscível nos objetos.

Nesta produção, o intelecto agente transfere a natureza comum de uma ordem sensível para a ordem inteligível, isto é, da singularidade para a universalidade. Desse modo, produz, em outras palavras, uma nova modalidade ou natureza comum, mas, produzindo esta nova modalidade, ele está produzindo a própria inteligibilidade da natureza comum. 

Ele está, em suma, produzindo um objeto proporcional ao intelecto, uma espécie inteligível. Daí, podemos dizer que o intelecto agente é a causa ativa da espécie inteligível e, além disso, que ele é sua causa principal.

O papel do intelecto agente é fazer do não-universal um universal, óbvio que aqui não em sentido da abstração tomista, mas no sentido de uma produção real de um representante do objeto. O fantasma fornece a natureza comum, que depois é universalizada pelo intelecto. É o fantasma, a forma que torna possível a produção de uma espécie inteligível que vai fazer com que o intelecto apreenda a representação e a reprodução do objeto. O Fantasma é então a causa formal da espécie inteligível.  A espécie inteligível é produzida por duas causas, nesse caso, o intelecto agente e o fantasma.

O intelecto agente fornece a universalidade e a imagem fornece a quididade. Para Duns Escoto, o objeto dos sentidos não é múltiplo nem uno, nem universal nem singular, mas transitoriedade entre eles. Da mesma forma que o intelecto depende da produção da espécie inteligível, os sentidos dependem do que existe de universal nos contingentes e singulares, como fica claro:

              “Com efeito, o objeto “em geral” da visão não é esta coisa singular, mas os visíveis em geral, isto é, a natureza visível.”

O realismo de duns é basicamente extremado. Ele encara o objeto como uma unidade real extra mentis que envolve singularidade/ natureza comum ou indeterminação ou indiferença formal, além do universal digamos metafísico representado pela natureza comum na coisa mesma.