Martinho Lutero e O Cardeal Caetano, 1557.


Um tema complexo, além de intrigante no âmbito gnosiológico, trago uma breve exposição no que tange ao processo abstrativo. Ao tratar das significações abstratas, Aquino salientou que o que é significado abstratamente nao admite adição para além de si, ou seja,  já que a significação abstrata considera, de maneira exclusiva, a própria forma das coisas por ex; ( humanidade, que significa aquilo que delimita ou permite com que o homem seja homem). Cabe considerar que, acerca de qualquer significado abstratamente, que não tem em si algo estranho, a saber, que seja para além de sua essência, como a (humanidade), ou a (brancura), se da  pela razão de que a humanidade é significada como aquilo pelo que algo é homem, e a brancura por  aquilo pelo que algo é branco. Formalmente falando, não se tem algum homem senão por aquilo que pertence à noção de homem, e, de modo semelhante, formalmente, não há algo branco a não ser para aquilo que pertence à noção de branco; e, dai que , os abstratos desse modo não podem ter em si nada de alheio. Entretanto, há considerações abstratas que excluem quaisquer adições a si mesmas. Como e o caso de humanidade e brancura, considerações abstratas de homem e branco, de maneira respectiva. Aquino, no De Ente e Essentia, distingue dois modos de abstração; A (abstração. não-precisiva) e a (abstração precisiva.). A primeira, a  abstração precisiva, é aquela em que a intelecção prescinde o princípio individuação da forma, isto é, é a abstração que exclui a matéria Assinalada da forma apetecida. ou aprendida. De outro modo, na abstração não-precisiva a intelecção por sua vez,  não exclui o princípio que individua da forma, dai que na abstração não-precisiva o princípio individualizador, apesar de prescindido, não se exclui. 
 
A abstração não-precisiva, considera o todo de maneira simples e absoluta (a essência ou natureza de um objeto) desconsiderando seus aspectos individuantes. Assim, aquilo que individualiza a essência de Aristóteles, no caso , a matéria assinalada, é prescindida para a consideração da essência que é comum aos indivíduos da espécie homem. Alem do mais, a essência ou quididade comum, de certo modo, contém a matéria; Mas, nao a matéria que é princípio de assinalação (ou individuação), porem,  a matéria comum ( matéria sensível comum). Essa  abstração não-precisiva (deixa de lado as características individuantes determinadas pela materia signata, matéria que individualiza). Para exemplificar, a consideração “homem” é obtida (por uma abstração de um todo em que os princípios individuados são deixados de lado, e considera-se a essência específica comum). Desse conceito (homem) não é considerada esta matéria (este corpo), mas ela não é tampouco excluída do conceito, na medida em que a matéria sensível comum é nota desse conceito. Dessa forma, a definição que o conceito expressa inclui o que Aquino denominava de matéria non-signata ou de matéria sensível comum. Por esse conceito homem, abstraído de modo não-precisivo, é considerado como um todo, entretanto, de maneira não determinada, qualquer homem singular. O Homem aqui  significa indeterminadamente, ou seja, de maneira abstratamente, qualquer singular que é homem, ainda que  cada homem singular contenha algo determinadamente que não está contido de modo  explicito no que é significado pelo termo homem, a saber, a (materia signata), pela qual constitui sua essência singular. 

Aquino no Ente e Essência, diz que o termo homem significa a quididade como um todo na medida em que não exclui a assinalação da matéria, entretanto a contém implícita e indistintamente, da mesma maneira que o gênero contém, implícita e indistintamente, a diferença. no que tange ao processo Abstrativo, ele  se da  apenas que duas funções intelectuais diferentes participam desse processo; a saber  o intelecto agente, que, por espontaneidade, deixa de lado as condições individualizadoras da imagem e o intelecto possível que recebe a determinação inteligível abstrata ou species impressa no intelecto. O que é recebido pelo intelecto passivo é um conteúdo universalizado, (Species Expressas).  No entanto, tudo que é recebido pelo intelecto, com respeito de suas diferenças inteligíveis, é recebido de modo estritamente universal. Dai que , o intelecto intelige um conteúdo, a quididade, e apreende de modo universal o que a coisa é. A partir dessa apreensão, o intelecto forma conceitos, expressando por aspectos inteligíveis o que foi apreendido. Esses  Conceitos são verbos mentais, expressões mentais do que o intelecto apreende. Tais Conceitos são formados a partir das naturezas recebidas no intelecto possível. 

No entanto, a essência significa a essência de um ente singular. A essência pode significar também razão da espécie, isto é, o que é comum de modo essencial a vários entes singulares. Nesse caso, a essência tem um modo de ser (universal) na mente. Esse modo é consequência do processo abstrativo. Contudo, diferentemente dos outros sentidos mencionados, essência ou natureza absolutamente considerada significa o modo de considerar a essência independente de sua maneira de ser no singular ou no intelecto. Dai que nem as propriedades que caracterizam a singularidade nem as propriedades que caracterizam a universalidade podem ser predicadas essencialmente dessa estrutura inteligível. Caso  fosse numericamente una, como são os singulares, enquanto singular,  não poderia ser instanciada em diferentes singulares, pois, nesse caso, diferentes singulares, que se distinguem por acidente quantidade/ numericamente e que são distintos de todos os outros singulares, teriam a mesma essência, isto é, não seriam distintos entre si mesmo. Por isso, se fosse una numericamente e conviesse a um singular, ela só poderia ser a essência desse único singular. Se fosse uma natureza comum a muitos indivíduos, como são os universais, ela não poderia ser una em cada indivíduo (não poderia ser a essência de um indivíduo particular), pois os indivíduos singulares seriam essencialmente constituídos por propriedades comuns, o que tornaria problemática, além de caotica sua singularidade. 

Contudo, a essência absolutamente considerada nem é singular nem universal nem una nem múltipla. O modo de ser singular ou modo de ser universal é, por ela, acidental. Dela não pode ser predicada qualquer propriedade que caracterizaria o modo de existir singular ou o modo de ser universal: Nada dela é verdadeiro senão o que lhe convém enquanto tal, daí qualquer coisa de outro que lhe for atribuída seria uma atribuição falsa, como diz Tomás no Ente e Essentia.  Dai diz Aquino; 

“Nada dela é verdadeiro senão o que lhe convém enquanto tal, daí qualquer coisa de outro que lhe for atribuída seria uma atribuição falsa”, cabe aqui insistir que a “natureza ou essência absolutamente considerada é fruto de uma dupla abstração não-precisiva".

Essa abstração da matéria assinalada do sensível e (abstração da intenção de universalidade da quididade abstraída). Por isso que essa dupla abstração, se coaduna por ser  (uma estrutura inteligível considerada independentemente de suas relações com o intelecto e com as coisas).  de maneira universal na mente e individualmente nas coisas). Por não excluir seus modos de ser, a essência torna-se apta tanto para ser individualizada  nas coisas  quanto universalizada  no intelecto do sujeito. A essência absolutamente considerada caracteriza-se como o que há em comum tanto nos indivíduos quanto nos universais, pois singularidade e universalidade lhe são instâncias acidentais.  Por abstração não-precisiva o intelecto produz o universal homem ou branco a partir de Renzo já que nesse tipo de abstração o termo homem passa a significar de forma indeterminada “ RENZO todo”, mas, pela abstração formal ou precisiva, se obtém exclusivamente humanidade, que por sua vez  significa aquilo pelo que homem seja homem e a  brancura,  que significa aquilo pelo que branco seja branco. 

Como Conceito (homem) significa indeterminadamente Renzo todo, pois não exclui suas determinações individuais ou singulares, pode-se atribuir (homem) a Renzo. Mas, como "humanidade" exclui as determinações individuais de Renzo, significando apenas aquilo pelo qual Renzo é homem, esse  termo (humanidade)  funciona como parte integral de Renzo e, por sua vez, não pode ser atribuída a Renzo, apenas. Entretanto,  o termo final ou o produto da operação de abstração é denominado  de universal abstrato, ou de verbo mental, e ate de species inteligível (expressa). O universal abstrato se decompõe em dois aspectos: uma, a sua  intenção de universalidade (ou mera universalidade) e conteúdo quididativo. Ela exprime no intelecto, de maneira universal, a inteligibilidade em ato de um conteúdo que era potencialmente inteligível na imagem/ Fantasma sensível.  O universal abstrato é prioritariamente um predicável: ele exprime no intelecto uma propriedade inteligível comum a muitos singulares. No entanto,  a inteligibilidade universalizada é genérica, ela não é característica de qualquer singular, já que os princípios que individuam foram deixados de lado pelo processo abstrativo.  

Assim, decompondo o universal abstrato em intenção de universalidade e conteúdo quididativo, se obtém a universalidade em condição da predicação; o conteúdo que tem uma intenção de universalidade é o que é atribuído ao objeto mencionado pelo sujeito da predicação. Como por exemplo, a atribuição predicativa cavalo a entes numericamente distintos só é possível em razão da quididade Cavalo ser um universal obtido pelo processo abstrativo, no entanto o que é atribuído a Aristóteles, não é a universalidade, porem,  o conteúdo quididativo homem, em outro exemplo. dai que ao afirmar que o universal é condição da predicação atesta que o universal abstrato é um indeterminado, ou seja um conteúdo universalizado pode sempre ser acrescido de uma nova determinação. Mas,  Tendo sido obtido por abstração, ele pode ser pensado de maneira  isolada sem possíveis adições, no entanto por ser abstrato, pode ser determinado pelo acréscimo digamos assim  de novas características que ele contém (implícita e indistintamente), pela expressão do Doutor Angelico.

Dessa Forma, a indeterminação do universal indica que ele é um ente de razão incompleto que exige uma determinação, sendo por isso um predicável.  por outro lado, no caso  inverso ao da universalização,  é o do processo de predicação. Se o universal é um gênero, ele pode ser determinado pela diferença específica, se é uma espécie ínfima, determina-se  pela materia signata, mediante uma síntese concretiva, que interliga ou conecta o universal à imagem sensível e, através da imagem, o objeto singular da qual a imagem é uma similitude. Dai que ao Abstrair-se para produzir um predicável que exprime de maneira genérica a inteligibilidade indeterminada das coisas representadas pelas imagens; pode-se predicar para concretizar o universal abstrato e, mediante o ato do juízo ou judicativo, conhecer as coisas. De fato, a predicação é o reverso da abstração: aquilo que a abstração generaliza, já a  predicação, em um juízo simples afirmativo predicativo, concretiza. Esse processo de concretização do universal supõe a satisfação de um condicionamento; o conteúdo universal não pode excluir propriedades que o particular, ao qual esse conteúdo abstrato é se atribui, contém determinadamente. Aquino denominou a operação de "exclusão de precisão." Um universal abstrato ou um conceito precisivo é um conceito que exclui uma propriedade que o singular tem determinadamente. Tal distinção entre conceito precisivo e não precisivo permitiu o Angélico classificar os elementos conceituais do juízo em termos concretos e também abstratos. Nos diz  Aquino na Suma Teológica: 

"Daí se segue que todos os nomes impostos a nós para significar algo de completo subsistente, significam concretamente, (in concretione), como é próprio dos compostos; porém os nomes que são impostos para significar as formas simples significam algo não como subsistente, mas como aquilo pelo qual algo é, assim como a brancura significa aquilo pelo qual algo é branco."

Termos abstratos como humanidade, brancura, excluem o princípio de individuação das coisas singulares, pois , eles não estão numa relação do indeterminado com o determinado, já que exprimem a razão pela qual objeto pode ser classificado como homem ou como branco. Desse modo, não são, assim, predicados de Singulares. Dai que,  homem significa algo que humanidade por sua vez,  não significa. Homem significa indeterminadamente tudo o que é Sócrates determinadamente. A humanidade significa aquilo pelo qual o homem é homem; dai que são os princípios formais (forma totius) da essência específica.  No entanto,  não ter sentido afirmar “Carlos é a humanidade”, contudo, tem sentido predicar de Platão, de Aristóteles e de demais indivíduos, numericamente distintos, que eles possuem a mesma quididade comum em razão dessa quididade ser considerada como um universal abstrato. Fica Exposto que no indivíduo, tudo é singularizado e o comum é sempre uma intenção, isto é, um ente de razão, fruto de uma operação do intelecto. Por sua vez,  é verdade que o comum não é arbitrário porque ele é extraído por abstração do singular. fica legítimo afirmação que o universal tem fundamento na coisa, in re.

Por um estudo Mereologico mais abrangente; podemos considerar que o  todo é dito de duplo modo: de um modo em que cada um das partes contidas no todo seja a própria unidade, a saber, o próprio todo que contém, de modo que o todo universal é predicado de qualquer de suas partes.  Ou de modo, a unidade é constituída de partes, onde não é o caso que qualquer das partes seja essa unidade do todo. E esta é a noção de um todo integral, que não é predicado de nenhuma de suas partes integrais. Dessa maneira, o gênero e a espécie são considerados não mais como todos constituídos de maneira composta por partes, mas como conjuntos que por sua vez,  contêm partes. Já que o todo universal pode ser considerado como conjunto, estão lá contidas as partes subjetivas que seriam seus subconjuntos. E, concluindo,  pode-se dizer que os indivíduos singulares estão contidos nos subconjuntos. Os subconjuntos seriam a espécie e o conjunto seria o gênero. Entretanto, um gênero é um todo universal no qual estão contidas várias espécies, que são suas partes subjetivas. Tal relação entre os gêneros e as espécies se coaduna até se chegar  a uma espécie ínfima, no qual estão contidos apenas indivíduos, singulares e não subconjuntos. Por fim , a espécie ínfima assume a posição de todo universal enquanto os indivíduos seriam partes subjetivas. O universal mais comum está para o menos comum como o todo para as partes. Como todo, nele está potencialmente contido, não só o menos universal, mas ainda outras coisas, virtualmente. No animal está contido não só o homem, mas também o cavalo.  Afinal de contas, o que faz com que os indivíduos ou espécies sejam classificados como estando no mesmo conjunto é o fato de possuírem as mesmas características ou estas serem semelhantes, isto é, as partes subjetivas são sempre homogêneas. Caso fossem totalmente diferentes (heterogêneas), os indivíduos ou espécies serão classificados em conjuntos diferentes. Sendo assim, as partes subjetivas de um todo universal (conjunto) nao poderão ser heterogêneas, contudo, sempre serão homogêneas. Diante disso, no que diz respeito à predicação, segue-se  as regras de um todo universal homogêneo; O todo universal está, na sua quididade e virtude totais, em qualquer das partes, como exemplo:  animal está no homem e no boi; e, por isso, ele se predica propriamente das partes singulares. Além do mais, podemos dizer que o todo universal pode ser predicado de qualquer de suas partes, mas as partes não podem ser predicadas do todo. Quando dizemos uma sentença que “homem é animal”, onde “homem” é parte subjetiva e “animal” é todo universal, temos uma predicação de certa forma legítima. E do mesmo modo quando ocorre a proposição “Aristóteles é homem”, pois ocorre de “Aristóteles” ser parte subjetiva e “homem” ser um todo universal. , o contrário em ambos os casos é inválido, se diz: “animal é homem” ou “homem é Aristóteles”.

O todo universal é primeiramente conhecido de modo indistinto e confuso, conhecemos e tratamos apenas do todo, sem considerar suas partes. De outra maneira, ele é conhecido de modo distinto, isto é, tratamos do todo universal considerando as suas partes. Ora, é claro que conhecer uma coisa na qual várias outras estão contidas, sem ter conhecimento próprio de cada uma das coisas naquela contidas, é conhecê-la com certa confusão. E assim, pode ser conhecido tanto o todo universal, no qual estão contidas as partes potencialmente, como o todo integral; pois, ambos esses todos podem ser conhecidos com certa confusão, sem serem conhecidas, distintamente, as partes. Agora, conhecer distintamente o que está contido no todo universal, é ter conhecimento menos comum das coisas. Assim, conhecer um animal, indistintamente, é conhecê-lo como animal; conhecê-lo, no entanto, distintamente é conhecê-lo como animal racional ou irracional, o que é conhecer o homem ou o cavalo. Por isso , o nosso intelecto conhece o animal antes de conhecer o homem. E o mesmo pode se dar ao comparar o que quer que seja de mais universal com o menos universal. 

Grosso modo, Abstração se dá da seguinte maneira: A) adquirimos as imagens sensíveis individuais (fantasmas); B) abstraímos a espécie inteligível dos fantasmas, onde teríamos um conhecimento confuso e indistinto; C) Retornamos para os fantasmas para identificar os elementos desse conjunto, de maneira que  temos conhecimento distinto com o conceito. em A) adquirimos a imagem particular (fantasma) de cavalo; B) abstraímos a espécie inteligível da imagem particular de Cavalo, isto é, não estamos falando mais de um indivíduo Cavalo, contudo,  sim do conjunto Cavalo, ainda sem distinguir os singulares como elementos do conjunto, de modo que, assim, temos um conhecimento indistinto do conjunto Cavalo; Dai retornamos para os fantasmas dos Cavalos (imagens individuais na imaginação) para sabermos quais são os elementos individuais do conjunto e termos um conhecimento distinto do conjunto Cavalo.  Ora, como pode-se observar abstração se da no ato incompleto, meio termo entre a potência e o ato, antes de chegar ao ato perfeito. Ora, esse ato perfeito, ao qual chega o intelecto, é a ciência completa, pela qual as coisas são conhecidas distinta e determinadamente. O ato incompleto, porém, é a ciência logica imperfeita, pela qual as coisas são conhecidas indistintamente, com certa confusão e de forma indeterminada; e o que é assim conhecido sob certo aspecto o é em ato e, de certo modo, em potência. Pois, aquele que conhece uma coisa indistintamente ainda está em potência para conhecer o princípio da distinção; pois aquele que conhece  o gênero está em potência para conhecer a diferença. Por onde se vê que o conhecimento indistinto é médio entre a potência e o ato.

Dessa forma, trás o cardeal Caetano uma interpretação exegética interessante ao tema, pois bem, o ponto de partida para a distinção entre a abstração total e a abstração formal encontra-se no (Commentarium De Ente et Essentia Thomae Aquinatis) de Caetano; trata-se da distinção entre totum (todo universal) e o (todo definível). O Caetano distingue estes dois tipos de todo de três modos;

A) A totalidade definível (totum definibile) que funda-se sobre a atualidade, enquanto a totalidade universal (totum universale) funda-se sobre a potência; B) A totalidade definível que por sua vez está ordenada ao superior, enquanto a totalidade universal está ordenada ao inferior; C) a totalidade definível que  é naturalmente anterior à totalidade universal. No entanto, a teoria de Caetano, distingue-se o todo universal e o todo definível principalmente pela distinção entre atualidade e potencialidade. O todo universal é aquele cuja relação com as partes é potencial, já no todo definível a relação com as partes é atual ou em ato. As partes de um todo universal, denominadas (partes subjetivas), são os universais inferiores. Como por exemplo, no todo animal, as partes subjetivas Homem e Boi.  No todo definível, suas partes, denominadas “parte definíveis”, são os universais que integram a noção formal da essência e, neste sentido, são universais superiores. Por exemplo, no todo homem, as partes definíveis animal e racional. Dessa maneira, a relação de um todo definível com suas partes definíveis é uma relação atual, uma vez que a noção formal está presente em ato na intelecto do sujeito), e tem uma dupla totalidade: seja, contudo, o todo definível, seja o todo universal. Por isso que estas totalidades diferem também de três modos: em primeiro modo, pois  a totalidade definitiva funda-se sobre a atualidade da coisa; no entanto, a totalidade universal, sobre a virtualidade ou potencialidade. Em segundo lugar, porque a totalidade definitiva está ordenada aos superiores, se os tem; com efeito, a totalidade universal está ordenada aos inferiores. por fim, porque a totalidade definitiva é naturalmente precedente à totalidade universal.

Em contrapartida, a relação de um todo universal com suas partes subjetivas é uma relação potencial e virtual, uma vez que,  um todo universal, não se segue que uma determinada parte subjetiva seja em ato. Ao termos o universal animal, não se segue tratar-se atualmente de um homem ou de um gato. Contudo, no universal animal estão atualmente presentes as partes definíveis “vivente” e “capaz de sensação”.
Outra distinção apresentada torna o contraponto entre todo universal e todo definível bem mais objetivo. Caetano afirma que o primeiro está ordenado ao inferior e o último, sendo ao superior. No entanto, esta característica ilustra a distinção lógica entre ambas as totalidades. Deste modo, o todo definível é composto por uma certa  intenção ou compreensão do conceito, ou seja, os superiores em questão são os conceitos que constam da definição do todo definível. Por seu turno, o todo universal é composto pelos conceitos inferiores, o que caracteriza a totalidade universal como uma totalidade extensional, digamos assim. No entanto, esta extensionalidade é composta por conceitos inferiores e não por indivíduos.  Por fim, Caetano distingue ambas as totalidades por uma ordem de dependência, sendo que a totalidade definível é anterior à totalidade universal. O nosso primeiro contato intelectivo é com a essência da coisa sensível, expresso através de sua definição; logo em seguida são levadas em conta suas partes subjetivas, e as instâncias que podem ser subsumidas por um determinado conceito. 
Fica claro aqui que não se deve confundir atualidade e potencialidade, nem distinção e confusão, de outro. O cardeal Caetano considera haver dois modos de conhecer o todo universal e dois modos de conhecer o todo definível. Dai que segundo ele teremos um conhecimento atual confuso, um conhecimento atual distinto, o conhecimento potencial confuso e conhecimento potencial distinto. Caetano no seu comentário no In De Ente, diz;

“As disposições destas cognições são estas: o primeiro é a cognição das coisas confusas atuais; segundo, das coisas confusas virtuais; terceiro, das coisas distintas atuais; quarto, das coisas distintas virtuais.”

Dessa Forma, podemos conhecer um todo definível, como o níquel , sem termos clareza de sua definição, isto pra Caetano chama-se conhecimento confuso atual. Em contrapartida, se conhecemos o todo definível homem em composição à sua definição, animal racional, teremos um conhecimento distinto atual. No conhecimento confuso potencial, temos um todo universal sem conhecermos suas instâncias (suas partes subjetivas). O conhecimento distinto potencial, temos  tanto um todo universal quanto suas partes subjetivas, como o triângulo e suas espécies, o escaleno, o quadrilátero, etc.
Exposta a distinção entre todo universal e todo definível, podemos observar a distinção do Cardeal entre abstração total e abstração formal, já que esta corresponderia ao todo definível e aquela, ao todo universal. No entanto, cabe  ressaltar que Caetano distingue três modos pelos quais um ente pode vir a ter existência no intelecto;  Abstração total, a partir da espécie e a partir do gênero; Abstração formal, também a partir da espécie e do gênero; Abstração a partir do singular, neutra em relação às outras duas. Vejamos, existe aqui um contraponto fundamental entre a teoria da abstração apresentada por Aquino e e Caetano. Tomás contrapõe a abstração do todo à abstração precisiva, de modo que o resultado da abstração do todo contém indistintamente os universais inferiores e os singulares, sem os Prescindir ou Excluir. Por outro lado, Caetano contrapõe a abstração total à abstração formal, levando em conta  os universais obtidos apenas com relação ao seu grau de abstração na matéria.  Além do mais, Caetano não aprofunda muito a consideração sobre esta abstração neutra, responsável, para ele, pela produção de universais a partir de singulares. Uma vez de posse dessas espécies inteligíveis, poder-se-á abstrair levando em conta, quer a totalidade definível, e seu conteúdo intencional, quer a totalidade universal, com seu conteúdo extensional.  Semelhante à abstração do todo tomásica, a abstração total caetanista tem por pressuposto a relação entre parte e todo. Por ambas as concepções, abstrai-se um todo universal de suas partes subjetivas, de suas instâncias. A distinção fundamental é que na concepção de Caetano o produto da abstração total depende de uma abstração formal para constituir determinadamente a noção formal da essência, e seu conteúdo intencional. Entretanto, a abstração do todo tomásica produz uma essência completa, com noção formal determinada e apreensão implícita e indistinta dos conceitos inferiores e dos singulares que são instâncias do todo universal.

Mas, abstração formal de Caetano, por sua vez, está mais distante da abstração da forma de Tomás de Aquino do que a abstração total se mostra dessemelhante à abstração do todo. Do mesmo modo que a relação entre todo e parte é pressuposto da abstração total, Caetano considera que a composição entre forma e matéria é um pressuposto da abstração formal. Dai que para ele nisso parece estar de acordo com Tomás, contudo, extrai conclusões diversas.  Em primeiro lugar, assim como na abstração total, Caetano considera que a abstração formal não pode ser feita a partir do singular, mas sempre a partir da espécie e a partir do gênero. Há, entretanto, mais divergência entre as concepções tomásica e caetanista. Para Tomás, a abstração da forma consiste na retenção de uma forma acidental da quantidade, deixando de lado a matéria sensível, pela qual, por exemplo, o conceito de quadrado pode ser formado a partir da imagem de uma mesa.  A interpretação do Cardeal Caetano torna a abstração formal mais abrangente do que a simples abstração Aritmética Tomista.
 
Por isso que  Caetano caracteriza a abstração formal como responsável por obter o todo definível, que é caracterizado como estando ordenado aos conceitos superiores, diz ele; 

“Que assim como há uma dupla composição, nomeadamente da forma com a matéria, e também do todo com a parte; assim há duas abstrações pelo intelecto, a saber, que o formal é abstraído do material, e também que o todo universal é abstraído das partes subjetivas”. 

Dessa Maneira, o todo definível (humanidade) contém atualmente os conceitos de animalidade e racionalidade. Além do mais,  e aqui está a distinção entre as duas abstrações. Na abstração total, o todo universal está relacionado aos conceitos inferiores que o instanciam, ou seja, a suas partes subjetivas. Na abstração formal, o todo definível está relacionado aos seus conceitos superiores, presentes na noção formal da própria quididade, a qual é composta por suas partes definíveis, ou seja, os elementos de sua definição. Diferente do que Aquino apresentou no Ente e Essência, a abstração formal de Caetano envolve tanto a matemática quanto a metafísica.  Caetano considera que a abstração formal é responsável também pela abstração dos termos metafísicos. 

Contudo, para melhor distinguir as duas operações, Caetano apresenta quatro diferenças fundamentais entre a abstração total e a abstração formal. Abstração formal, temos cada um dos dois conceitos completos considerados separadamente pelo intelecto, o que foi abstraído e o do que se abstrai,  Na abstração total, não permanece separadamente cada um dos dois conceitos completos, apenas um: o que foi abstraído; Na abstração formal, há atualidade e maior inteligibilidade; Na abstração total, há potencialidade e menor inteligibilidade; Na abstração formal, quanto mais abstrato, mais conhecido segundo a natureza (notius natura); Na abstração total, quanto mais abstrato, mais conhecido para nós (notius nobis); Na primeira diferenciação, Caetano sugere que na abstração formal temos dois conceitos separados, enquanto na abstração total temos apenas um conceito, sem nenhum outro conceito considerado em separado. Se abstrairmos animal de homem, teremos apenas um conceito: o que foi abstraído, animal; o outro conceito, do qual se procedeu a abstração (no caso, homem), não está incluído determinadamente, embora não esteja excluído. Trata-se de uma parte subjetiva que fica confusa na intelecção de animal. Caetano caracteriza a abstração formal como atual e a total como potencial, e como menos inteligível. Essa distinção entre atualidade e potencialidade deriva da própria relação entre todo e parte. Na abstração total, temos uma abstração do todo universal a partir da parte subjetiva, de modo que temos uma intelecção potencial do todo com relação a todas as suas partes subjetivas, potencial virtual no caso.  Ou seja, podemos conhecer um gênero sem conhecer todas as espécies que o instanciam. Ao pensarmos em animal, não está determinado se se trata de um carnívoro ou de um quadrúpede, mas como potencia virtual, podemos apreender  parte subjetiva contida em potencial de um todo universal, uma vez que essa própria  parte é um conceito inferior deste todo e, dessa maneira , não entra em sua definição.

Agora, no  todo definível consiste na intenção de um conceito e, consequentemente, nos elementos que constam em sua definição. Cada elemento que o define é por sua vez, uma parte definível, a qual integrará a noção formal da essência. Fica evidente  que a relação entre todo definível e parte definível é atual, uma vez que o todo definível envolve atualmente a sua noção formal, mesmo que não seja claramente concebida. No terceiro par de oposições, Caetano relaciona a abstração formal ao que é mais conhecido segundo a natureza (notius natura) e a abstração total ao que é mais conhecido para nós (notius nobis). A totalidade definível expressa algo conhecido por natureza mesmo (notius natura), já que expressa a noção formal da essência, os seus aspectos de definição, e que caracterizam a coisa na natureza. Por sua vez, a totalidade universal expressa algo próprio ao nosso modo vulgar de conhecer (notius nobis), comum a todos os homens, uma vez que não se trata para Caetano de um conhecimento da essência enquanto essência. 

Caetano considera que a abstração total é comum a todas as ciências, mas as ciências especulativas são diversificadas pelos modos de abstração formal. Ou seja, a abstração total está presente em todas as ciências, uma vez que ela produz os conceitos dos quais se servem as ciências, conceitos estes que são totalidades universais relacionadas a partes subjetivas. Contudo, diferente de Tomás de Aquino, e assimilando as três ciências especulativas a graus diversos de abstração formal, Caetano afirma que:

“assim, os entes metafísicos não são comparados aos entes naturais pelo modo que o todo universal o é às partes subjetivas, mas como os entes formais o são aos materiais, e do mesmo modo em relação aos entes matemáticos”. 

A primeira grande diferença entre as duas teorias,  trata-se da correlação entre as operações mentais e as ciências especulativas, metafisica. Em  Tomás de Aquino a ciência natural, os universais são obtidos pela abstração do todo, reservando a abstração da forma exclusivamente para a matemática, na qual a forma acidental da quantidade é abstraída a partir da matéria sensível.  Caetano, por sua vez , considera  a abstração total a um papel inferior, como uma mera função de obter universais, deixando indeterminadas as partes subjetivas de sua extensão, mas sem tornar clara a noção formal da essência assim considerada.

Na abstração formal, a forma é abstraída da matéria. Entretanto, Caetano classifica forma em sentido lato, englobando a forma acidental da quantidade, caso da matemática, e a forma do composto hilemórfico, no caso da ciência natural, e as formas substanciais indiferentes à matéria, caso da metafísica.  Outro ponto interessante é que Caetano deixa de lado a abstração a partir do singular, considerado por ele como uma abstração neutra tanto com relação à sua abstração total, como em relação à sua abstração formal. As duas abstrações são operadas a partir do gênero ou da espécie. Disso podemos  refletir uma interpretação mais lógica do que Noológica ou Noetica da abstração. 
Repetindo, para o primeiro, a abstração total é responsável pela obtenção de um todo universal e isto pode ocorrer segundo os dois modos de cognição: confuso e distinto. Já a abstração da forma é responsável pela obtenção do (todo integral inteligível) ou (todo definível) no vocabulário de Caetano.  Na abstração formal a atualidade é abstraída, por outro lado, na abstração total a confusão da potencialidade é abstraída. 

abstração total deve ser compreendida como a cognição confusa das partes subjetivas, ao passo que a abstração formal deve ser compreendida como a cognicão distinta das partes integrais inteligíveis partes definíveis. Devemos deixar de lado tanto a cognição distinta das partes subjetivas quanto a cognição confusa das partes integrais inteligíveis. No caso da cognição distinta das partes subjetivas, não é necessário para a compreensão de um todo universal que haja clareza de todas ou de uma grande parte as suas partes subjetivas. Por exemplo, pode-se ter um conhecimento adequado do todo universal animal, sem o conhecimento de alguma instância sua, como o gato ou boi. No entanto, ao se considerar as partes integrais inteligíveis (as características do conceito), torna-se necessário um conhecimento distinto das partes para um conhecimento adequado do todo definível. Em uma consideração adequada do conceito de homem, se faz necessário compreender sua definição,  e, animal racional. Ainda sim, não é suficiente um conhecimento confuso das partes definíveis de um todo integral inteligível.
Neste sentido, ele distingue a definição matemática, que considera objetos "figuras geométricas", por exemplo,  que não contêm referente à matéria sensível, da definição física, que se refere a objetos que contêm matéria sensível. Dai que,  enquanto a abstração da forma de Aquino é ato por onde  o intelecto apreende uma forma acidental da quantidade a partir de uma imagem sensível, por sua vez, a abstração formal de Caetano é a consideração explícita das partes integrais de uma definição, não só as aritméticas,  porem, as físicas.


Portanto, ao passar  à essência a modo de parte, que se dá com exclusão da matéria assinalada, em homem, ao excluir-se a matéria assinalada, tem-se a humanidade, que é a essência de homem a modo de parte, ou, ainda, a quididade: de fato, humanidade significa aquilo donde procede que o homem seja homem. A matéria assinalada não é aquilo onde procede que o homem seja homem, e assim, não está contida de modo nenhum naquilo a partir do que o homem tem o ser homem. Isto é, a matéria assinalada apenas individualiza a essência, mas não pertence a ela. Excluindo-se a matéria assinalada, resta a essência abstrata ou quididade, aquilo pelo qual algo é o que é.
A quididade é uma forma que é um todo. Abarca matéria e forma, mas exclui aquilo que na matéria seria assinalado, ou Signata. Quididade e matéria assinalada são dois constitutivos de um composto, e, portanto, partes do todo. Ela mesma expressa um todo, isto é, contém por completo os princípios essenciais, mas, por não abarcar os princípios individuantes que singularizam, caso da ( matéria assinalada), significa a essência a modo de parte. Essa  exclusão da matéria assinalada difere da indeterminação da espécie em relação ao singular, e do gênero em relação à espécie. No primeiro caso, a matéria assinalada é parte constitutiva do composto, ao ser suprimida, resta a outra parte: o Quid abstrato, isto é, apenas os princípios essenciais. Não se obtém a espécie, esta inclui os princípios singulares, mas indeterminadamente, e sim a essência a modo de parte. No segundo caso, a determinação está contida implicitamente no gênero, e por isso significa a essência a modo de todo e é predicável.  Dai que não há exclusão da diferença, e sim indeterminação. Como já citado, quando se exemplifica; os conceitos ou o nomes (homem) e o nome (humanidade) expressam a essência de homem, contudo, de modo diverso. O conceito “homem” significa como um todo, sem prescindir da assinalação da matéria, mas a contendo indeterminadamente. Agora (humanidade) significa ao modo de parte, pois contém apenas o que pertence ao homem enquanto homem, e prescinde, exclui de toda matéria assinalada. No primeiro, poder-se-ia afirmar que “Aristóteles é uma certa essência”,  no segundo,  por sua vez, (a essência de Aristóteles não é Aristóteles). “Humanidade” não se predica nem de homem nem ao menos de Aristóteles, já que as partes não se predicam de um todo.

Desse modo, fica exposto os modos de expressar a essência, a modo de todo e de parte, considerando que a essência a modo de todo pode ser predicada do concreto comum (homem) e do indivíduo ( José). A essência como todo (não prescinde da designação da matéria, mas a contém implícita e indistintamente). Está determinado nela o que há de essencial, e indeterminado o que não é essencial,  caso do gênero, também está indeterminada a diferença específica. Por isso, se faz nada possível  que a noção de universal, isto é, de gênero ou de espécie, possa caber à essência na medida em que é significada a modo de parte. Por outro lado, a essência,  não pode existir como algo extrínseco aos concretos singulares. Uma quididade que existe fora do indivíduo existe por si só, e de modo determinado.  Ora, a predicação pelos predicáveis se utiliza da indeterminação, pois  permite que muitos sejam predicados pelo mesmo nome-conceito, ainda que possuam diferenças individuais. Trata-se de uma forma de predicação, fundamentada na noção de indeterminação, a qual escapa a todas as tentativas de substancialização, uma vez que a indeterminação é, por definição, algo que não pode ter uma existência por si, pois o que existe por si só existe de modo determinado, Singularizado. Esses predicáveis só podem convir à essência significada como todo completo, pois lá esta contida implícita e indeterminadamente tudo o que há no singular, e expressa, determinadamente, o que constituem as propriedades essenciais. A noção de gênero ou de espécie cabe à essência, na medida em que é significada a modo de todo, como pelo nome de homem ou de animal, na medida em que contém implícita e indistintamente este todo que está no indivíduo. 

Essa totalidade pode ser tomada de duas maneiras;  O primeiro modo absoluto, segundo sua noção própria ou em si mesma. O segundo modo, chama-se relativo, segundo o ser que tem nos singulares.  O primeiro modo é dito de acordo com a noção própria da essência; consideração em que nada é verdadeiro dela, senão o que lhe cabe enquanto tal.  Por exemplo, ao homem, enquanto homem, lhe cabe, as definições de (o racional, o animal e o que entra em sua delimitações essenciais, os  acidentes, etc). No entanto, o branco, o negro , etc., não cabem ao homem enquanto homem. Desse modo, não cabe perguntar-se se a essência nesse modo é una ou múltipla, pois  nem a unidade nem a multiplicidade são intrínsecas à essência enquanto tal, per se. Caso fosse una, a natureza de dois indivíduos seria a mesma, e não poderia multiplicar-se em vários. Se fosse múltipla, não poderia individualizar-se em um singular. podem ser em muitos, mas não é una nem múltipla.  Não se diz que a essência do homem, enquanto tal, isto é, de maneira absolutamente considerada, tenha o ser “neste” singular, pois, caso fosse, a essência de homem enquanto homem seria restrita a “este” singular, X.  A essência absolutamente considerada incluísse o ser “deste” singular, de modo necessário só poderia estar nele, e privado aos outros. Por isso que a essência absolutamente considerada também não salvaguarda relação com o ser, pois este não está incluso na essência. Fica claro que a natureza do homem, absolutamente considerada, abstrai de qualquer ser, de tal modo, entretanto, que não haja exclusão de nenhum deles. pois é a esta natureza, assim considerada, que se predica de todos os Singulares. Por isso, não se pergunta se essa essência existe ou não. Não se afirma nem se nega o ser, mas se prescinde dele. Não se pode dizer, por exemplo, que a essência de homem, enquanto tal, tenha ser naquele, ou neste singular. A quididade relativamente considerada é a predicação universal. Agora de  modo relativo, a essência é considerada segundo o ser nisto ou naquilo. Algo é predicado dela em razão daquilo que é, como dizer que “homem é negro”, porque “Kant é branco”. dai que, o que dela é predicado é algo acidental, nao substancial.

Esse ser da essência assim considerada dar-se nos singulares ou no espirito,  daquele que conhece: o homem, não na medida em que é homem, tem o ser neste singular ou naquele, ou na ad intra. Assim, existem dois tipos de acidentes advindos da quididade como diz Aquinate: Aqueles adquiridos por estar na realidade objetiva, extra mentes  e os que se obtém por estar no sujeito mesmo cognoscente. A depender do ser (real ou de razão), tal essência pode ser real ou pensada, isto é, ter ser no objeto mesmo ou na mente. Nos singulares, a essência tem tantos tipos de ser (um ser múltiplo) quantos são os singulares. Por sua vez, a essência absoluta é a que se predica ou atribui aos singulares em toda predicação, o que não é o mesmo que dizer que os predicáveis devam também convir a ela. A essência absoluta se atribui ao conteúdo da predicação (exemplo citado, o que faz com que homem seja homem), por outro lado, os predicáveis são o modo de predicar esse conteúdo. A natureza absolutamente considerada,  não cabe à noção de universal, pois  nela estão a unidade e a comunidade. Essa natureza absolutamente considerada não é una nem múltipla, assim como não é da essência de homem ser um ou ser muitos. Unidade e comunidade não cabem à natureza de homem, pois, caso contrário, ao se encontrar a humanidade, encontrar-se-ia a comunidade; no entanto, tudo o que está “neste” homem encontra-se nele singularizado. Essa essência absolutamente considerada não é universal, pois  não é uma essência capaz de possuir diferentes tipos de ser, e que possa por isso existir em uma pluralidade de singulares. Tal  essência assim considerada não possui a extensão de gênero e espécie. 
Nos singulares, a essência pode apenas ser uma. entretanto, é próprio do universal conter tanto a unidade quanto a pluralidade. Fica descartada também a essência relativa segundo o ser que tem nas coisas. A essência que cabe à noção de universal só pode ser, portanto, a que está na alma, abstraída da essência individualizada, que se encontra nos objetos extra mentis. 
A própria natureza humana tem no intelecto um ser abstraído de tudo que individua e, assim, tem uma noção uniforme para com todos os singulares que há fora da alma, na medida em que é igualmente semelhança de todos e leva ao conhecimento de todos na medida em que são homens.  Tal natureza inteligida é “semelhança una de todas” no caso as coisas fora da alma,  isto é, o intelecto estabelece uma comparação entre a natureza presente no intelecto e os singulares considerados em sua singularidade.  Contudo,  os Tomistas chamam isso de intenção predicativa. O universal que por sua vez é apto a ser predicado do singular depende tanto da indeterminação das diferenças singulares implícitas nele, quanto da semelhança, verificada por essa comparação do intelecto, da semelhança daquilo que foi inteligido à coisa, que é particular. 

Enquanto conhecida, a essência é denominada universal. A essência se dá sempre nas coisas singulares, entretanto,  o intelecto abstrai caracteres individualizantes e considera aquilo que é predicável de muitos singulares. Daí dizer-se que (O que é abstraído da matéria individual é o universal.) Pois, ao abstrair-se a essência individual real, desconsidera-se a matéria assinalada, que não é inteligível. Tal essência perde, suas "notas" vamos colocar assim,  singulares, e permanecem as notas essenciais. O nosso intelecto entende que a essência, por ser abstrata, também é universal. Pois,  compreende todas as notas essenciais que a constituem; por seu turno, dada sua extensão, isto é, essa essência guarda uma relação com todos os singulares dos quais foi abstraída, o que permite conhecê-los naquilo que têm de essencial. Tal  essência é, a que convém às intenções lógicas. 
A universalidade dessa essência, que é expressa no conceito, tem fundamento na realidade, já que e  semelhante  aos indivíduos concretos. Comparada aos indivíduos concretos, aos objetos ad extra,  essa essência tem caráter universal, pois é atribuída a muitos. No entanto, apesar de que seu objeto seja universal, o intelecto que a representa é sempre particular, logo, no intelecto, essa espécie inteligida é particular.  Contudo, a universalidade desta forma não se dá de acordo com este ser que tem no intelecto, mas na medida em que se refere às coisas como semelhança desses objetos. Por exemplo, uma representação na estátua. Caso houvesse uma estátua para representar muitos homens, obviamente que ela seria singular nesta matéria, contudo,  teria a noção de comunidade, como a representação comum de vários, a espécie aqui  inteligida é singular no intelecto, mas, por referir-se a muitos, tem a noção de comunidade.  Cabe à natureza humana, considerada absolutamente, ser predicada de Douglas. Ja a noção de espécie, porém, não pode ser predicada de Douglas. 

Podemos então descrever que; Joao [indivíduo] é homem, pois tudo o que cabe ao homem enquanto homem pode ser predicado de Joao. Caso, a essência considerada absolutamente correspondesse à intenções lógicas, poderia  ser possível predicá-las dos singulares, pois tudo o que se predica da essência absoluta se predica do singular . Dessa maneira,  não se pode dizer  Carlos ( singular) é espécie.  Os universais predicam os singulares segundo a natureza que está no intelecto. A predicação é resultado de um ato do intelecto que compõe e divide, que julga com fundamento na realidade, a unidade daquilo que se atribui aos singulares. Tal predicação é algo que se completa pela juízo discursivo do intelecto que compõe e divide, tendo por isso, o  fundamento na própria coisa, a unidade ocorre aqueles,  e dos quais um é dito do outro. A partir de uma comparação, que expressa determinadamente o que é semelhante neles, e que preserva o que não é, por meio da indeterminação presente no gênero que é atribuído ao singular. Essa  "predicabilidade" digamos assim, não se encerra na  noção de gênero,  o intelecto completa essa "predicabilidade," ao atribuir a intenção de gênero.




Referências;


Bobik, J. Aquinas on being and essence. Notre Dame: University of Notre Dame Press. 

Caetano (Thomae de Vio Caetani) Commentarium super Opusculum De Ente et Essentia Thomae Aquinatis. 

Ente e Essência, Tomás de Aquino.

Del Ente y Dela Esencia, Tomas Cayetano, Juan David Garcia. 

Suma Teológica, edição bilíngue, Santo Tomás de Aquino. 

lições de filosofia Tomista, Manuel Corrêa de Barros.

H. D. Gardeil  INICIAÇÃO À FILOSOFIA DE S. TOMÁS DE AQUINO.