Um grandessíssimo teólogo escolástico do renascimento, faço aqui uma breve exposição sobre o Dr Eximius, seu método de conhecimento, etc. Antes de adentrar no método,  é  preciso aqui ainda distinguir duas modalidades na conceituação de ente: como particípio e como nome. Pra Suarez, o  particípio ens designa aquilo que existe aqui e agora, relacionado ao momento atual, o nome ens indica formalmente a essência da coisa que possui ou que pode possuir o ser. Desse modo, o  ente pode se referir àquilo que existe (hic et nunc), é  àquilo que pode existir, ou seja, que não é contraditório, além de que possui uma essência real. Entretanto, nem todos os entes se pode predicar a existência atual, a essência real, ao contrário, pode ser atribuída universalmente. No entanto, por essência real entende-se uma orientação para existir, uma aptidão a ser. Isso expressa aquilo pelo qual a coisa é algo de mais firme e sólido, per se,  não fictício, mesmo desprovido de existência atual. Dessa forma, pois, que o conceito de real que Suárez emprega significa não-contraditoriedade, nem repugnância aos princípios cognoscitivos e não existência atual.   O conceito nominal de ente abstrai da existência atual, mas,  sem negá-la. Nos diz Suarez; 


“o objeto adequado desta ciência deve compreender Deus e as demais substâncias imateriais, mas não apenas estas. Deve compreender não só as substâncias, como também os acidentes reais, mas não os entes de razão nem os que são totalmente per accidens. E como o dito objeto não pode ser outro além do ente como tal (ens ut sic), logo este é o objeto adequado.”

Fica claro nessa passagem que, o ente atual é apenas um caso particular do que Suárez chama de ente real, aquele que possui essência real, cuja realidade é sua aptidão a existir e a ser.  Pois bem, no método, ele considera que nos sentidos externos, as espécies são pró-induzida por objetos, e isso leva à visão de que não precisa haver um sentido neles. Porém, no que se refere ao sentido interno, ele acredita que necessariamente deve ser admitido um senso de agente de espécie intencional. A razão dada pela Excelência parte da existência de dois planos qualitativamente diferentes, mas comparáveis de acordo com um grau de perfeição. As espécies intencionais não são mais perfeitas do que seus objetos; Então, a brancura não é mais uma qualidade perfeito do que seu tipo. Suarez acredita que o conhecimento sensorial é dado pelo efeito de um impressão material causada pelo estímulo externo no órgão dos sentidos. Esta impressão assimila e elabora como uma semelhança intencional do objeto, como uma espécie sensível ou o material impresso; como traço e representação da qualidade, mas não como qualidade física em si. Dai ele nos diria que a espécie sentida interna não é produzida pelo objeto externo por meio de uma espécie, mas pelo sentido externo graças ao seu ato de conhecimento. 

Dir-se-ia que o sentido interno recebe espécies do sentido externo. No sentido interno, forma-se uma espécie que representa o mesmo objeto, e isso se deve à coordenação e união que as duas faculdades sensoriais possuem na mesma alma. Assim, temos duas espécies de uma categoria especificamente diferente: a externa e a interna. As espécies produzidas na imaginação Suarez diria que a espécie deve se ajustar à faculdade, e que o corpo docente mais perfeito deve fazer uso de espécies mais perfeitas.

 “A espécie externa” , comenta ele,  depende do objeto, porque se produz como uma participação imperfeita nele; mas a sensação externa, por sua vez, produz a espécie no sentido interno como quem imprime nela uma imagem perfeita de si mesma, que o sentido interno pode muito bem conservar de acordo com sua disposição natural. Os atos do entendimento ou intelecto são os pensamentos ou conhecimento espiritual; Assim, quando o homem apreende as coisas, não se detém na sua mera aparência externa, mas faz todo o possível para chegar à sua quididade ou Quid.

Então, pode-se estabelecer um paralelismo entre duas correspondências triplas: Sentidos-Materialidade-Objetos e o Intelecto-Imaterialidade-Ser.  há no entendimento uma disposição, uma forma que responde a essa espontaneidade em perceber o ser: poderíamos dizer resumidamente que o ser é a forma de entender.  O intelecto só pode conhecer as coisas como sendo, por isso é  a condição necessária de sua atividade; aquilo que não é o entendimento terá que pensar sobre isso e até mesmo sabê-lo como ser; pois,  ele vai pensar em algo que não possui, terá que dar isso a ele como forma. Considerado em si mesmo, mas adequado para os objetos engloba todas as coisas, a potência dos pontos em que se pode passar o tempo, mas o intelecto pode saber tudo o que está na natureza de um ser: é, portanto, o objeto será o total do mesmo. Dai o (A parte Rei) que postula a ideia em que algo é segundo a sua própria natureza, segundo a natureza desse mesmo algo, e não segundo o seu entendimento pela operação do entendimento (que se chamaria (secundum intellectum). Aqui nos interessa ver, em primeiro lugar, a funcionalidade do agente e dos intelectos possíveis no processo que vai do conhecimento do singular ao do universal. O entendimento, em Suarez, sabe o que é singular. O primeiro conteúdo do entendimento mostra a forma de um singular e não de um universal: o conhecido não é uma noção abstrata, mas um indivíduo, concreto.  Conhecemos João ou José, mas não o homem abstratamente. Por meio dos sentidos, ele acessa o objeto particular, que posteriormente compara com outros e que, levando em conta sua semelhança, pensa nele como um ser e, então, forma o conceito universal. Separado das notas particulares, este conceito mostra apenas o que há em comum entre os objetos comparados.  Nesse ínterim, dizemos que a ação do intelecto é melhor do que a dos sentidos: pois ele e capaz de conhecer o singular material por uma espécie própria e representativa, na qual pode ver a natureza das coisas singulares, independentemente das notas peculiares do  indivíduo.

Suarez postula dois tipos de abstração em sua gnosiologia; a que se refere à espécie além da que se refere à natureza representada na espécie. o conhecimento singular para Suarez não é um conhecimento desprovido de qualquer elemento universal, mas é um universal terminado em um singular, basicamente. Tal significado do conhecimento do singular de Suarez é que antes que o homem seja conhecido como acabado e possuído por João, então o homem abstrato e separado de cada indivíduo; mas mesmo assim já é conhecido, embora afetado pelo índice de singularidade em latim,  (homo, ut em João).  No que tange os universais, ele postula três; o metafísico:  antecede à realidade,  o físico: na realidade in re, além do lógico: posterior à realidade. A universalidade metafísica é aquela que a tem como denominação extrínseca e abstração do intelecto; dai que  a natureza é representada como comum e indiferente. No entanto, não existe um universal metafísico propriamente dito: seria algo independente dos indivíduos, abstraindo-se ao máximo de toda mutação e contração; Sua única distinção possível não é realmente, mas pela razão. O universal físico é a mesma natureza universal encontrada nas coisas; portanto, não pode ser considerado formalmente, porém, apenas de maneira  material, ou seja, como natureza abstrata. Estar nos objetos, esta sujeição às mudanças e acidentes do mundo sensível. A função do intelecto agente, fala o Dr. Exirnio, “é produzir as espécies inteligíveis; já o possível, age e realiza a inteleção por meio dessas espécies.”

Dessa maneira ele atribui  duas operações ao intelecto possível: o  direto: pelo qual tende diretamente ao objeto que a espécie inteligível representa e para o qual se dirige de forma absoluta e essencial o entendimento; e a reflexão ou  refletir;  pelo qual o entendimento retorna ao conhecimento prévio ou ao objeto deste, de acordo com as condições ou nomes que o conhecimento recebe. Suarez aborda a questão com a exposição de três opiniões: o universal é produzida pela operação do entendimento do intelecto agente; o universal é produzido pelo entendimento possível; e o universal é obtido pelo conhecimento comparativo. Dessa forma, ele acredita que o intelecto conhece o singular antes do universal. Consequentemente, Suárez conclui afirmando que (nosso intelecto pode conhecer diretamente o singular e a primeira espécie que está impressa no intelecto é a do singular, de modo que aquele que é primeiro conhecido pelo intelecto  é sempre o singular. 

Como notado, existe  há  primazia natural do intelecto agente, considerado o mais elevado, sobre o possível, potência ao seu ato. A operação do intelecto agente precede todo ato possível de compreensão. O entendimento ou intelecto agente produz uma espécie inteligível, que representa a natureza precisa e abstrata de uma série de indivíduos, por isso é  objetivamente universal e comum na representação. Por sua vez, o intelecto passivo, em clara dependência do agente, só conhece as naturezas comuns e um conhecimento direto dos materiais singulares é privado. O universal é o objeto do intelecto ativo e da compreensão possível: o primeiro como potência ativa; o segundo, como passivo ou receptivo; o primeiro;  produz espécies inteligíveis e outra realiza intelecção para elas. o universal, entende-se como entidade ou relação da razão, é obtido pelo conhecimento comparação ou relação,  e é uma atividade de compreensão possível. É uma segunda intenção formal e a natureza que conhecemos e definimos como uma segunda intenção objetiva do conhecimento. Daqui, parte-se de uma apreensão precisa e abstrata da natureza das coisas singulares, que por sua vez,  tem universal no poder remoto, distanciado,  pois não se apresenta como algo verdadeiramente que existe no coletivo e indeterminado. Por outro lado, este concebido será comparado com as coisas em que existe, e será concebido como algo apto a existir em muitos inferiores e a pregar sobre eles. O universal só possui ser objetivo no entendimento/ intelecto e só existe em virtude do conhecimento comparativo e relacional, modal. 

Para Eximius, o intelecto agente não produz as espécies representativas dos indivíduos nem tem um valor geral para toda a universalidade, porém,  para o específico e apenas formalmente.  Quando se afirma que não produz as espécies representativas dos indivíduos, postula-se que nunca se impressa no passivo com uma espécie representativa da diferença como tal. Sua missão é imprimir todos os de natureza comum ou específica. 

A espécie, de modo geral, pode ser entendida como uma representação do objeto. É impresso ou expresso. Assim como Tomás, Suarez disse que o intelecto agente é aquele que produz a espécie impressa a partir da reprodução sensível do objeto. “Os objetos ad extras,   são os primeiros estímulos que determinam nos sentidos e na inteligência aquelas energias, que chamamos de espécies” diz ele. Essas são as origens do conhecimento que a compreensão passiva alcança ao reter a representação de um objeto em uma produção mental. Esse produto mental é a espécie expressa ou, o verbo mental, pois, nessa espécie, o entendimento expressa o objeto capturado. Um ponto interessante é notar que tal (verbum) não é a espécie impressa nem outra coisa que o ato intelectual.  No caso suposto o fantasma representante. Nem não é cognitivo também é: não concebe a natureza de uma maneira e depois de outra. A compreensão do agente, abstrai apenas a natureza específica. 

A espécie impressa nos diz o Doutor Eximio; não é uma imagem formal, nem de maneira alguma representa formalmente, mas com eficiência, na medida em que é como o germe ou instrumento do objeto para realizar a representação formal intencional que se realiza pelo conceito do intelecto.  Por tal representação, o objeto torna-se presente na alma racional. Alem disso, sua natureza não é representada adequadamente nas espécies impressas, mas apenas remotamente e MEDIATA (remote et mediate). Para Suarez  está espécie é aquela que realiza o ato ao qual aquela natureza se apresenta objetivamente. Dessa forma, ao compreender  que o universal é produzido pela abstração do entendimento do agente, isso só pode ser entendido em seu escopo. A espécie impressa não se abstrai da representação do indivíduo que representa na imagem ou fantasma, mas da própria imagem, considerada em sua materialidade constitutiva real e entitativa. Esse elemento que representa a espécie em produção  pelo intelecto agente é o mesmo do fantasma. A equivocidade  é que o fantasma é uma representação material, já a espécie, por outro lado, é espiritual. A abstração do intelecto agente em Suarez, é  a produção de uma espécie de entidade imaterial, mas não em sua representação, que, como o fantasma, continua a representar o material e o individual. Esse Fantasma e espécie representam o mesmo objeto material, mas não da mesma maneira. Tal distinção  é marcada pela natureza da faculdade reprodutiva. Já que a fantasia ( sentido interno)  o faz como um mero agregado de qualidades sensíveis, enquanto o intelecto agente o faz como um ser. Dessa forma o agente, ao entrar em contato com o objeto, representado na imagem do material, se tem o elemento ontológico subjacente. 

O que será produzido no entendimento possível se apresentará como ser e será especificado em um universal; a espécie impressa representa o singular, o universal que é especificado terá que conter aquele singular. O que está representado e aqui vemos a novidade do teólogo,  embora contenha singularidade e universalidade, é  superado em uma síntese final  em que não deixa de demonstrar, pelo menos no tempo, essa prioridade do conhecimento singular sobre o universal.  Por sua vez, o real é o que é independente  de qualquer operação do intelecto, aquilo que existe no mundo e não tem no ato mental nenhuma causa de seu ser. Caso não existissem atos mentais, ainda assim existiria a realidade. Por outro lado,  não significa de modo nenhum que um ato mental não possa captar ou apreender o real, mas apenas significa que esse real captado não tem a causa de seu ser no ato que o capta. Um exemplo; em uma multiplicidade de homens; A Cada homem tem sua unidade numérica, isto é,  um é um além de diverso do outro.  Dessa forma, cada homem tem a sua forma substancial homem, também multiplicada tantas vezes quantos forem os homens singulares/ individuais. Caso temos três homens (João, Antônio e Rogério), logo temos três formas homem. Cada forma dessas particular  tem seu conteúdo formal, isto é, aquilo em que essa forma consiste. João tem sua forma substancial homem com seu respectivo conteúdo, no caso, animalidade/ racionalidade. Isso pode ser aplicado acerca dos outros dois.  ainda que sejam múltiplas formas (cada uma com sua unidade numérica e sua unidade formal), a mente é capaz de perceber que os conteúdos formais são indiferentes. Nesse caso, a mente atribui esse “único” conteúdo indiferente uma unidade,  a unidade universal. O homem universal por exemplo é composto do conteúdo formal homem mais a forma de universalidade.

Ora, essa forma de universalidade foi atribuída pelo intelecto. Não há, pois, universalidade no mundo independentemente da operação mental de universalização. Por isso, é correto dizer que a universalidade não é real, mas meramente mental, conceitual ou de razão, posto que a causa de seu ser é uma operação mental. Porém,  o mesmo não podemos dizer do conteúdo formal da forma homem. Já que o conteúdo não existe na natureza das coisas enquanto universal, mas, mesmo assim, existe nos indivíduos reais concretos, isto é, existe de maneira singular; logo, porque existe nos indivíduos, pode ser captado pelo intelecto. Dai quê, o conteúdo homem é real, mas a universalidade é conceitual. Suponhamos agora um touro ,  Mediante o mesmo tipo de processo mental, pode obter-se a forma universal cavalo, o cavalo universal. Dadas essas duas formas universais (homem e touro ), nosso intelecto,  pode em conjunção unir os objetos num único ente metade homem, metade touro. Dessa forma, temos o Minotauro. Na forma Minotauro, não apenas a universalidade, porém, também o conteúdo total é mero conceito. Entretanto, dizemos que o Minotauro  não é um ente real, não tem ser real, mas apenas conceitual; e isso mesmo sem ser considerada sua universalidade. Por fim,  é possível entender a distinção de ente real e ente conceitual ou de razão em Suarez. Por seu modo, Suárez argumenta que embora a humanidade de Sócrates não difira da de Aristóteles, no entanto, eles, não constituem um realitere a própria humanidade não são muitas unidades formais no caso, as humanidades, pois há pessoas, e tais pessoas não constituem tal fato, porém,  apenas uma unidade essencial ou ideal, ele diz em latim; 

( ita ut Plura individua, quae dicuntur esse naturae ejusdem, não senti unum quid vera habilitar quae a sentar-se em rebus, sed solum fundamentaliter vel per intellectum ') essa unidade formal, no entanto,  não é uma criação arbitrária da mente, mas existe " in natura rei ante omnem operationem intellectus” ) 

Obrigado pela atenção, até! 


Referências; 

Investigaciones Metafísicas, Francisco Suárez.

Del Ente En General/ General Ent.

De anima; Francisco Suárez.


Disputaciones metafísicas; Francisco Suárez.