Faço uma breve exposição alguns postulados apresentados por marechal em sua episteme, aqui vai algumas; 

Verdade e Ordem do julgamento; 

Para Marechal, seguindo assim Tomás somente o julgamento pode reivindicar esta qualidade de ser emissário da verdade. O julgamento em si conscientiza o fenômeno como fenômeno. É certo que para Marechal a verdade não pode ser encontrada em nenhum outro elemento do conhecimento humano. Nem a sensação, nem o simples conceito, nem a apreensão, nem a síntese concreta não apresentam (signate aut exercite) os elementos essenciais de uma relação de verdade lógica. Por isso, para ter uma relação de verdade lógica deve haver uma verdade qualquer que esteja presente na inteligência. Pode-se falar de uma verdade imanente à coisa, Tomás a chama de verdade ontológica. De outro modo, pode se supor que ela esteja corporalmente presente, mas que ela não atinja nossa consciência de forma alguma, nem mesmo implicitamente, então ela é para nós como algo sem realidade. 

Por isso a verdade no sentido próprio só pode ser dita em função de uma inteligência. As coisas existentes, dependem de uma fonte de verdade: elas emergem do ser por uma Inteligência infinita, elas são medidas pela Inteligência primeira. Aproveitando da inteligência para se encontrar na superfície da consciência epistemica, querendo nos tornar expressões de verdade, a coisa se relaciona com nossa inteligência : mesmo integrada no conhecimento, a coisa mede nossa inteligência. O pensamento só atinge a verdade mostrando uma conformidade entre seu ser se exercitando no ato da inteligência e o objeto real (encontrando sua expressão forma vicária  no conhecimento). Esta conformidade de oposição, da inteligência com a coisa, forma a relação de verdade lógica. Dessa forma, a noção de verdade sempre contém a atualização proporcional entre o pensamento e a realidade: na verdade ontológica, verdade no sentido derivado, a coisa é medida por uma inteligência; na verdade lógica, verdade no sentido próprio, a inteligência é medida pela coisa; ela fica ao mesmo tempo marcada pela oposição ao objeto.

A apreensão dos objetos é verdade para nossa inteligência na medida em que essa toma consciência de sua assimilação ao objeto o qual ela se opõe. No entanto, esta só se encontra na intersecção das condições a priori e das condições empíricas de nosso conhecimento objetivo. Ora, dentre todas estas condições, nenhuma fica isolada, pois se realiza a integração formal na alteridade que caracteriza o verdadeiro conhecimento. Todas devem ser superadas, se ordenar hierarquicamente sob o julgamento até realizar a afirmação ontológica que liga a inteligência ao ser absoluto.

A luz de um conhecimento só brota na inteligência no momento de sua identificação com o objeto. Sujeito e objeto devem coincidir para que um conhecimento ilumine nosso mundo interior. O conhecimento não ata esta união, ele é a união, ele supõe a união feita. porem, nossa inteligência humana não é intuitiva. Ela é discursiva, e que nem sempre está apta a conhecer, deve receber seus objetos. Seus objetos lhe são dados. Ela depende dos outros quanto ao conteúdo de suas posses. Ela é receptiva. Dai a recepção supõe um certo condicionamento recíproco de receptividade e de comunicação. Qualquer um não recebe qualquer coisa. Deve-se estar preparado para o que se quer aceitar; e isto só se alguma coisa for dada e esta alguma coisa estiver adaptada às nossas possibilidades. Ora, por um lado constata-se o fato do conhecimento, por ele mesmo, mostra-se toda interioridade. Ele se apresenta como um ato imanente da consciência. Ora a ação imanente não é transitiva entre um sujeito em si e um objeto em si. Ela é possessão de objeto no interior do sujeito Por outro lado, nossa inteligência, discursiva, deve aceitar.  Dessa forma, um objeto se opõe ao sujeito. Um objeto e um sujeito se defrontam, se freqüentam. Para que eles se unem um deve agir sobre o outro.  Uma atividade transitiva é necessária.  Mas a atividade conhecedora é imanência e ato. Todo seu efeito próprio é interioridade. O agente principal do ato transitivo é objeto. A ação do objeto sobre o sujeito se impõe como um pressuposto. Nos encontramos diante coisas dadas, coisas recebidas. Dadas como frutos da atividade do objeto, recebidas como aceitas pela inteligência.

Dessa forma, Dom e recepção são os primeiros elementos que orientam nossa procura do condicionamento inteligência-fenômeno. A ação do objeto sobre o sujeito supõe no sujeito uma capacidade de sofrer uma influência vinda do exterior, ela pede a aplicação de uma faculdade receptiva externa. Assim, o conhecimento é possessão ativa de conteúdo, de consciência. Se de uma maneira ou de outra ela recebe, a receptividade deve estar inscrita na sua realidade viva. A receptividade puramente material não é suficiente, a aceitação do dado e tudo que abrange o dom, deve se encontrar na imanência, no ato. A forma natural possui em si uma operação estritamente imanente, ela não é totalmente absorvida pela matéria, ela emerge. Nela a recepção material se prolonga em uma recepção imaterial que implica o conhecimento. Ou melhor, a recepção imaterial que lhe é própria se dobra, se exterioriza numa recepção material que a coloca em contato com o mundo físico.  Este é particularmente o caso dos seres sensíveis. Para se tornarem conhecedores, eles começam por aceitar as influências exteriores que se imprimem na sua materialidade, e eles a completam pela aceitação interior da forma objetiva que foi comunicada nesta impressão.

Neste contexto, pode-se concluir: a recepção material, a pura sensação, só é, nela mesma, relatividade. Ela é constituída pela interação material do sujeito e do objeto em si. Seu próprio conteúdo é a forma que resulta diretamente da união dos dois termos, a marca pela qual o mundo exterior vem ativamente modelar nossos órgãos sensíveis. Logo que é impressa no sensorium, esta forma considerada como tal, pertence tanto ao sujeito como ao objeto. Ela é relativa. Ela é entendida como um conjunto, que para os escolásticos chama-se o objeto formal. O objeto formal que acabamos de citar existente na sensação, marca sempre uma relação recíproca do sujeito ao objeto. 

Ele é o acordo mútuo, apercpeção requerida; é então o aspecto sob a qual os objetos materiais da potência se relacionam.  Na unidade universal que ele exprime, os objetos particulares estão realmente em força, um próprio ato complementar de um sujeito conhecedor; por outro lado, o objeto formal é a força mesma a capacidade do sujeito com relação aos objetos exteriores, de onde as determinações são recebidas pelo sujeito como também por outros atos que o aperfeiçoam. Conhecendo bem o objeto, a atualização se torna mútua : o objeto formal representa, para cada poder, a condição comum, média, onde objeto e sujeito se completam e comungam naturalmente, segundo uma relação recíproca de ato e de poder. 

Entretanto, não é a ação física do objeto material que delimita o aspecto formal, característica de uma faculdade. Nenhum objeto material apresenta por si só as qualidades de unidade, de universalidade e de necessidade que ele possui uma vez integrado no conhecimento. De fato, estas qualidades estão em desproporção flagrante com a ação exterior, múltipla, particular e contingente da materialidade. Mas é na adaptação conjunta que a forma preexiste como resultante possível tanto no eu APERCEPTIVO como no objeto.  Já que é só pelos caracteres de imanência estrita que as qualidades sensíveis chamam nossa atenção, a forma dada à sensibilidade condiciona-se a estar na ordem das idéias assim como partícipe analogicamente das qualidades da forma subsistente. A forma da sensibilidade, apesar de sua perfeição, permanece para os escolásticos, realmente orgânica, intrinsecamente limitada pela matéria do sensorium, constituindo com esta matéria um só principio indivis de operação imanente. Mas ao mesmo tempo ela se apresenta como uma operação que, se voltando-se para os objetos exteriores e sofrendo a marca material do mundo objetivo, possui acima de tudo uma função intencional e noológica característica para o conhecimento completo. 

Podemos dizer que sem matéria sensível e sem intuição quantitativa desta matéria, o conhecimento fica no vazio, por falta de conteúdo determinado; mas também sem a desmaterialização deste conteúdo numa atividade imanente, a matéria sensível nunca é conhecida. Nossa inteligência possui, pois, por natureza, os princípios transcendentais que permitem reconstruir uma unidade (inteligível em ato) por ênfase de um o modelo de uma representação concreta, que não é inteligível mais que em potência. O qual eqüivale dizer, que a inteligência encerra uma ‘condição sintética a priori,’ inquantitativa e metasensível, que, sem embargo, não entra no jogo mais que com o favor de uma cooperação atual da sensibilidade.  A cooperação sensível completa materialmente as determinações transcendentais, inatas à inteligência, permitindo-lhes assim expressar-se em representações objetivas. A partir da interioridade intuitiva, perfeita, própria do Ato Puro, a inteligência humana traz em si um modo transcendental de unidade que exige uma matéria onde aplicar-se. A inteligência humana, em possessão natural, mas não objetiva, enquanto ser, está limitada extrinsecamente por “coisas em si” donde deve para passar ao ato objetivo, assimilar-se, por através do sentidos, as aportações sucessivas.  

A universalização; 

O objeto se apresenta e estampa: uma sensação é necessária. À recepção material, esta sensação deve se desdobrar em uma receptividade imaterial para se tornar realmente reconhecida. Este distintivo imaterial só se explica numa teoria da intencionalidade onde a forma surge além da matéria, tira dos objetos sua materialidade e se enriquece de conteúdos ideais pertencendo à ordem da idéia. Não, é somente o nível da receptividade, mas onde certos caracteres só se explicam com referência a um nível superior. Eles presumem o andamento de uma atividade que não se encontra na própria natureza da sensibilidade. O fantasma (ou imagem sensível) é o produto específico da sensibilidade. Dependendo do objeto material para sua presença física o fantasma deve ser realçado de maneira a se assimilar finalmente o conteúdo da atividade imanente. Para se dar conta então da desmaterialização da imagem sensível, é preciso resolver o caráter intencional na gênese de nosso pleno conhecimento. 

Fica evidente que só a imagem sensível não pode preencher uma função intencional. Esta figura só existe se concretizada numa referência explicita e direta ao aspecto material do objeto físico; ela precisa de um condicionamento para desencadear seu interior; e estando ligada à quantidade ela não apresenta as qualidades de universalidade, de necessidade e de atividade reivindicadas pelo nosso conhecimento. A inteligência não é um tipo de sentido interno, passiva à sua maneira. Os problemas e as exigências que foram formuladas para a sensibilidade, não se fixam nem para o ato nem para o produto da inteligência. O conceito, produto do ato intelectual, não é intrinsecamente ligado à imagem concreta. De outra maneira o conceito se revestiria totalmente, consciente em si, das propriedades estritamente individuais e quantitativas.

É então preciso uma inteligência que resolva o enigma da receptividade imaterial, que aja sobre a imagem sensível, que assim revele a intencionalidade do completo conhecimento e que forneça assim um objeto idealizado ao ato imanente. Ora, tudo isto só é possível pressupondo uma atividade que tenha sua fonte própria na inteligência e que só seja atividade, sem nenhuma recepção.  É necessário que a atividade intelectual, não seja somente a priori como a sensibilidade, mas que ela seja espontânea num sentido mais estrito.  Diante disso, Marechal nos conduz a uma solução: supor um Ser transcendente atuando diretamente sobre a inteligência seria contrário aos princípios metodológicos fundamentais, a ideia do intelecto-agente e do intelecto-possível. A função necessária da inteligência-agente, consiste em criar no intelecto-possível os inteligíveis no ato, ou seja, lhe fornecer determinações específicas (species), intrinsecamente livres de qualquer restrição material. ( já demonstrados em artigos recentes aqui do blog)

A atualidade do intelecto-agente; tendo em vista que se deve colocar na inteligência um aspecto de espontaneidade, um aspecto de atividade onde a fonte se encontra na potência intelectual, um aspecto o qual denomina-se intelecto-agente, deve-se logicamente admitir que a inteligência, neste ponto de vista, não necessita de ato desconhecido para entrar em ação e que ela está sempre atuando. Os efeitos particulares de sua atividade serão prolongamentos em ação do seu estado de ato. Naturalmente dinâmico, o intelecto-agente está sempre em ato conforme sua substância.  Pode-se considerá-lo, pois, como uma espontaneidade radical, um poder da alma que se estende ativamente em direção a tudo em que a inteligência, como possibilidade de conhecimento, pode integrar. Por outro lado, já que não temos os objetos de nosso conhecimento nascidos em nós, devemos considerar que; a parte verdadeiramente espontânea de sua intervenção não vai além de certos caracteres absolutamente gerais, os quais a próxima especificação depende do dado sensível. Kant dizia o mesmo, em termos críticos : o conceito não é totalmente a priori nem totalmente espontâneo : ele é a posteriori (ou empírica) quanto à sua matéria (seu conteúdo diverso), a priori e espontâneo quanto à sua forma sintética (sua forma de universalidade). 

Ou melhor dizendo, potência, é pois, a condição objetiva criada pelo impulso original do Ato a comunicar-se direta ou indiretamente: no princípio primeiro de toda potencialidade há uma vontade criadora. No exercício de nossas faculdades racionais percebemos a passagem da potência ao ato e o impulso que ultrapassa o momento presente. Assim, Santo Tomás reconhece nelas as correlações essenciais a todo acontecer. Se como foi afirmado o principio primeiro e o fim último são correlativos logo, o intelecto agente, em uma mobilidade é o impulso recebido do motor, é, portanto, o principio do movimento. A inteligibilidade da imagem sensível o inteligível em ato, para Marechal, não indica nada mais que a forma objetiva de atuação da potência intelectual. Nem o objeto exterior, nem a imagem sensível apresentam esta atualidade objetiva do conhecimento.

( Eles são no máximo intelligibilia in potentia, os quais devem ser atualizados. O papel do intelecto-agente será então facere intelligibilia in potentia esse intelligibilia in actu.)

O intelecto-agente age não por uma transformação física da imagem sensível, porem, por uma abstração da forma universal. Ao invés de impedir o conhecimento da realidade segundo sua verdadeira natureza assim como sua real existência, a abstração rende à imagem recebida todo teor universal do ser real por ele mesmo; ela universaliza. A inteligência mesma está em potência, mas com a possibilidade de sair de si mesma, de seu estado de espera, no momento de um objeto presente sobre sua trajetória. Ela capta então uma possibilidade pré-existente no objeto para atualizá-lo. Esta atualização (o universal tal como revelado na inteligência após a reflexão) não é o objeto exterior,  mas ela realiza o que o objeto possui de valido, de importante.

A função do intelecto-agente com a imagem sensível parece então, no sistema tomista, com a uma dupla casualidade. O intelecto-agente é ao mesmo tempo e sob certos aspectos uma causa formal e causa eficiente. A relação do intelecto-agente com a imagem sensível implica algo nesta pluralidade de causas, se quisermos nos dar conta da atividade recíproca dos dois elementos cognitivos.  De fato, existe uma solidariedade natural muito unida entre o intelecto-agente e a imagem sensível, segundo Tomás, esta relação se prende à doutrina geral sobre a intercomunicação intersubjetiva vital das potências numa formação humana. Para Tomás e para Marechal, o ser humano só forma uma unidade, uma substância, um principio de agir. Toda atividade humana é então profundamente uma, e cada potência particular se encontra, parcialmente ou por repercussão, nas outras potências. Cada ato exprime o ser humano inteiro, mas ao seu modo. Esta unidade não impede a multiplicidade de faculdades, de possibilidades e atos, mas ela exige um princípio de unificação contínua. 

Paralelo a isso, a relação entre o intelecto-agente e a imagem sensível é, por um lado a de uma casualidade material e formal e, por outro lado, a de uma casualidade eficiente e final. No primeiro caso a imagem sensível é como o suppositum, o suporte material que permite ao intelecto-agente existir como informação num conteúdo. No outro caso, o intelecto-agente se mistura continuamente, como um princípio ativo e dinâmico à sensibilidade, ele a dirige como uma causa orienta seu efeito. Então, no homem, a finalidade interna, o apetite natural da sensibilidade não fica confinada à algo concreto espacial e transitório, mas sim, através deste concreto, se orienta para o inteligível. É por isso que no homem, não como nos animais, o produto superior da imaginação chama, por sua natureza, como o complemento normal, a inteligibilidade. 

É o que exprime a formula recebida: phantasma est intelligibile in potentia. Assim, como já foi dito a imagem sensível deve ser o produto de uma receptividade tanto imaterial quanto material. A síntese passiva, simplesmente resultante de associações automáticas e de marcas materiais, deve então se duplicar em uma síntese ativa, construtiva ou reconstrutiva, para entrar como unidade na consciência. Os caracteres próprios dos conceitos o intelecto-agente realiza para a inteligência a comunicação de sua própria atualidade permanente a um paciente: a inteligência mesmo sendo uma possibilidade de conhecimento. 

Logo que ele entra em exercício ele comunica sua própria vitalidade à imagem sobrelevando-a, preparando-a para ser captada, e depois do contato atual estabelecido entre as duas faculdades, sensitiva e intelectual, o intelecto-agente transporta seu próprio movimento segundo as especificações de sua matéria sobre a qual ele agia. Neste movimento, pelo qual a inteligência se especificou se adaptando espontaneamente a uma matéria, ela possui o tipo formal, dinâmico, intrinsecamente imaterial do termo sobre o qual o intelecto-agente exerceu sua ação. Do encontro, necessário e inconsciente, do intelecto-agente e do fantasma, o primeiro se submetendo ativamente ao segundo (analogicamente como causa principal e causa instrumental), resulta na faculdade intelectual uma determinação dinâmica correspondendo à estrutura qualitativa do fantasma, termo desta atividade. Segundo a doutrina de Tomás a species ainda não constitui o id quod do conhecimento, mas somente o id quo. Ela possui no conhecimento como possibilidade uma função dinâmica e formal, mas não objetiva. Marechal diz que ela é, a linha característica de uma atitude, mas de uma atitude objetiva, dinâmica e não estática. O aspecto puramente formal desta atitude pode muito bem se exprimir pela terminologia kantiana das categorias ou puro conceitos. Segundo Kant, estes conceitos só têm uma real existência por uma síntese concreta que os ligam à unidade categorial do real.

Marechal diz também que de uma maneira geral, é uma condição necessária da representação objetiva no julgamento. Deste modo, para passar do fantasma a um conceito universal é necessária a presença simultânea de duas qualidades: primeiramente a species deve ser liberada de qualquer resíduo particular próprio e estar integrada numa função universal; em segundo lugar ela deve permanecer ligada de uma matéria qualquer a uma materialidade unificada. A primeira operação é efetuada pela ação do intelecto-agente sobre o fantasma. A segunda se realiza pela síntese concreta. Tomás dizia o mesmo recorrendo à unidade do ser quantitativo. A atividade intelectual sempre se liga a uma materialização muito geral. 

Um elemento de representação sempre interfere em todas suas atividades.  Ela só pode fazer funcionar as species na consciência objetiva e levando-as até uma imagem atual e concreta correspondente. Portanto, observa-se que, mesmo admitindo uma síntese concreta, segundo Tomás e Marechal, ainda não se vai além da função representativa do conceito. O conceito não se torna totalmente objetivo porque ele está ligado a uma unidade categorial do real. Conhecer a representação objetiva do objeto, não é ainda conhecer o objeto ele mesmo como que se opondo objetivamente ao sujeito. Esta última etapa, a objetivação, só será realizada no dinamismo final da inteligência. 

Julgamento e objetivação; 

A síntese concreta não basta para explicar a função objetiva do conceito. pois o conceito deve não somente apresentar um conteúdo universalizado, uma species considerada precisa no interior de nosso conhecimento próprio. Ele deve ser atribuído de maneira explicita ao objeto, ele deve significar a unificação do objeto e do sujeito na oposição. particularizado, ele nao subsiste. Isolado, ele é apenas uma representação. Possui a marca da concreção e de sua origem e de sua relação à imagem sensível, mas ele não é ligado à realidade, ao ser. 

Se a função objetiva do conceito se confunde totalmente com a sua função representativa, é preciso concluir que a espontaneidade do intelecto-agente, na formação das espécies inteligíveis, se reduz a um poder formal de síntese numérica. A unidade inteligível não é outra que a unidade abstrata do número. Ora Tomás e Marechal pretendem que através da unidade abstrata de número uma outra unidade, inteligível, seja afirmada em cada conhecimento; que uma significação, inclusa de forma  virtual em cada representação, perpasse a consciência além de toda imagem sensível para uma região metaempírica, conhecida analogicamente. 

Sem essa unidade ulterior, cai-se no agnosticismo metafísico, não se conhece realmente os objetos. Se a inteligência suporta o objeto, ela deve, sobretudo se opor a ele ativamente. É preciso que não somente o conhecimento perceba a origem estrangeira da determinação imanente isso conduz somente à afirmação de um objeto em si do qual não se sabe nada, nem se ele existe de verdade, porem, que conserve a relação ad extra, que ele afirme esta relação na imanência do sujeito. dessa forma, o tomismo tem o título de verdade graça ao julgamento de afirmativa e negativa. A síntese, a pura composito e divisio quer dizer: uma união de um dado com as categorias do real ou do irreal, não basta,  uma síntese afirmando ou negando a referência ao ser, à realidade existente é necessária.

Dessa forma, o conceito, visto isoladamente, reflete a  intensidade a fidelidade ao objeto exterior, existe um tipo de estado de conformidade entre eles e o objeto, como num retrato, nada mais. A verdade aí se encontra, mas somente como ela se encontra numa coisa na qual a realidade própria manifesta. Se o conceito ou a simples apreensão implicam um grau mais elevado de verdade, é que eles participam da composição do julgamento. Para se conservar uma oposição na imanência mesma do sujeito e não criar uma confusão de objeto e de sujeito no interior da consciência, é preciso recorrer a uma função do julgamento que ultrapasse sua atividade sintética.

 Ligar uma síntese de objeto e de sujeito numa unidade abstrata do conceito, admitir uma composição e divisão sem participação explícita do ato intelectual, não é mais suficiente, é necessário que o ato de afirmação ou de negação seja integrado no conhecimento. A verdade se une formalmente, não a uma expressão conceitual, mas a um princípio quase intuitivo, a atividade intelectual. por isso ela ultrapassa o quadro da imanência subjetiva para render a um objeto, o conteúdo da representação conceitual.

Portanto, Esta quase-intuição, Marechal fala em  afirmação. A afirmação confere ao julgamento o valor objetivo. Ela, na qual prima o elemento ativo e intuitivo da inteligência, é de uma importância capital para a teoria de Marechal. Sem perceber, ela esta presente em toda a evolução, em toda a gênese de nosso conhecimento. Ela arrasta todo o peso da verdade, implicitamente contido em cada elemento consciente. Ela é a força estimulante, a origem imanente e o dinamismo finalístico. Ela confere finalmente ao conceito uma relação de oposição que o marca na nota de ser (ou melhor: que o liga à existência concreta. 


Referencias;


Ente e essência; https://b-ok.lat/book/3622255/620f9a

COMENTÁRIO AO DE INTERPRETATIONE DE ARISTÓTELES, Santo Tomás de Aquino; https://www.pdfdrive.com/condensado-do-coment%C3%81rio-de-s-tom%C3%81s-de-aquino-ao-de-interpretatione-de-e138431434.html

H. D. Gardeil  INICIAÇÃO À FILOSOFIA DE S. TOMÁS DE AQUINO; 

Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais; Mário Ferreira dos Santos; 

S. Tomás de Aquino COMENTÁRIO AO DE ANIMA DE ARISTÓTELES; https://www.pdfdrive.com/condensado-do-coment%C3%81rio-ao-de-anima-de-arist%C3%93teles-escrito-por-s%C3%83o-tom%C3%81s-e60281779.html

 Ser e Essência, Étienne Gilson; https://b-ok.lat/book/5662912/35cb7b

S. Tomás de Aquino COMENTÁRIO À METAFÍSICA DE ARISTÓTELES; https://www.pdfdrive.com/metaf%C3%ADsica-e60281767.html

Suma Teológica, Santo Tomás de Aquino; https://www.pdfdrive.com/suma-teol%C3%B3gica-e181718650.html

Critica da Razão Pura, Kant

J.Maréchal, Le point de depart de la métaphysique Cahier IV 1947 Bruxelle

Le point de depart de la metaphysique 01

J.Maréchal, Le point de depart de la métaphysique Cahier I 1922 Bruxelle 

kant, critica da razao pratica 

kant, metafisica dos costumes