A escravidão africana, desconstruindo mitos, a suposta “conveniência” da igreja católica, Portugal fiador do Racismo biológico,  entre outras falácias da esquerda identitária  e afins.



Bom, pretendo aqui em palavras sucintas objetar e responder,  alguns mitos muito usados sobre a  Escravidão africana em favor de narrativas anti-católicas;

O intercâmbio  inter-regional entre portugueses e africanos. Africanos como receptores de escravos.

Inicialmente, a Costa do Ouro foi mais atraente para os europeus, basicamente por causa de seu fácil contato com as jazidas de ouro de Akan situadas no centro de Begho no rio Volta. Ao norte da Guiné, entre os atuais Senegal, Gâmbia e Mauritânia, ficava a Senegâmbia, a primeira das grandes fontes de escravos na história do tráfico no Atlântico.  os portugueses construíram na costa da atual Mauritânia a Feitoria de Arguim, cujo objetivo principal era o comércio de cativos, além do ouro. Desse modo, Funcionaria como o protótipo de uma cadeia de outras fortificações semelhantes que, nas décadas seguintes, seriam erguidas ao longo de toda a costa africana.

 No total, cerca de 150 mil cativos africanos foram adquiridos na costa da África pelos portugueses entre 1450 e 1500. Por certo tempo, esse era o melhor negócio que os portugueses arranjaram no continente: comprar escravos no Golfo do Benim e vendê-los aos próprios AFRICANOS na vizinha Costa do Ouro, em troca obviamente de ouro. Com esse propósito, ergueram, em 1482, o Castelo de São Jorge da Mina, ou Elmina, onde eram estocados os escravos que seriam revendidos para os próprios chefes africanos responsáveis pela exploração de ouro nas minas de Bambuque, no alto rio Senegal, e Buré, no alto rio Níger.

Nas palavras do historiador Herbert Klein, um terço de todos os cativos capturados ou comprados na África pelos portugueses no final do século XV era repassado para os próprios africanos em troca de ouro. Um escravo vendido na Costa do Ouro rendia o dobro do lucro que se obteria pelo mesmo cativo em Lisboa. Dessa maneira, entre 1500 e 1535, os portugueses levaram do Benim para São Jorge da Mina entre 10 mil e 12 mil escravos. Em troca, transportaram para Lisboa mais de uma tonelada de ouro num período de apenas vinte anos.

 Aqui já é bem nítido que os Africanos no início do tráfico além de serem receptores e agirem como agentes passivos do negócio, recebendo os escravos, eram eles próprios utilizadores da força de trabalho africano, demonstrando claramente que, a visão romantizada e Iluminista dos inimigos da igreja não se sustentam com uma minuciosa e eficiente pesquisa historiográfica.

 

Do interior a costa, captura, agentes intermediários

Afinal, será mesmo que os europeus capturavam escravos no interior africano ? Ou obrigavam africanos a capturar,  Com pena de punição ao nativo local?

alguns pontos do litoral ou à beira dos rios, havia se desenvolvido ao longo dos séculos, feiras especializadas no tráfico negreiro. Mas também havia feiras do mesmo tipo a centenas de quilómetros do mar e longe de qualquer curso navegável, as quais iriam ser, aliás, cada vez mais procuradas à medida que se iam exaurindo os recursos humanos em locais mais acessíveis. Essas feiras (ou pumbos) podiam ter âmbito local ou regional até supranacional e nelas se negociavam vários tipos de mercadorias, mas com ênfase nos escravos.

Aos pumbos acorriam comerciantes africanos, em Kimbundu na África Centro-ocidental  designados (Guenzes), que faziam por vezes centenas de quilómetros para virem vender filas de escravos enviados pelos chefes políticos da sua área de origem. Do litoral, por sua vez, chegavam outros negociantes, com os seus carregadores repletos de mercadorias europeias e de outras regiões de África, tendo feito também até aí uma ou várias centenas de quilómetros. Pombeiros  era, como já se disse atrás, a designação que se dava a esses intermediários sertanejos no Congo e em Angola, onde podiam igualmente ter outros nomes, como funantes ou funidores, tais homens eram ( AFRICANOS DE ORIGEM).

Os  pumbeiros, tratavam-se de negros na maioria eles próprios escravos, de chefes locais africanos ligados direta ou indiretamente a reinos africanos, em suas características básicas, eram bons conhecedores dos caminhos do sertão e das relações de poder aí dominantes e, em geral, bilingues, que os comerciantes ou simples particulares de Luanda e de Benguela enviavam  como seus representantes a fazer o “resgate de escravos” e, eventualmente, de outras mercadorias. O seu comportamento pautava-se por uma grande probidade, levando meses, e até anos, pelas sendas do interior até concretizarem os negócios a que se tinham comprometido.

Dos pumbos até aos portos do litoral mediava,  um longo percurso, a somar ao que as caravanas de escravizados já tinham cumprido  até aí, podendo perfazer, no seu conjunto, várias centenas de quilômetros. Tratava-se de uma marcha muito penosa, ao sol e à chuva, com longas etapas e paragens mínimas, com alimentação e fornecimento de água mais que deficientes e caminhando os escravos, sobretudo os homens, presos uns aos outros por correntes de ferro, os libambos  ou forquilhas de madeira unidas umas às outras, formando cordões humanos levados aos mercados mais próximos, portanto, está muito claro que o Europeu em absolutamente nada participava da captura direta de cativos, isso é falácia das grandes.

 

Os interesses mútuos comerciais entre africanos e europeus

Cansamos de ouvir na escola ou até no meio universitário , na mídia Mainstream, que os Africanos coitadinhos, nada sabiam, agiam, ou se quer intervieram pra evitar o tráfico ou coisa parecida, será mesmo que tal afirmação se sustenta?  

O historiador Joseph Miller demonstrou que, nas suas negociações, o tráfico de escravos trabalhava com mais de mil itens das mais diversas procedências. Incluíam tecidos, armas e munições, bebidas, conchas marinhas, artefatos de ferro e cobre,  por aí vai. Entretanto, O tráfico era um negócio que exigia, principalmente, um cuidadoso trabalho de relacionamento dentro do continente africano com reis e chefes locais, que lucravam e controlavam o fornecimento de cativos em suas respectivas áreas.

Cabia a eles organizar cuidadosamente as expedições militares para capturar escravos. Na África, Estados inteiros foram criados ou derrubados, assim como sociedades nasceram e entraram em colapso em função do tráfico negreiro.

Os chefes africanos definiam os preços, controlavam a oferta, faziam alianças e fechavam negócios com diferentes interlocutores europeus,  em geral, rivais entre si  de modo a evitar o monopólio de qualquer país ou grupo de compradores no seu território. no final do século XVII, o rei de Aladá, na Costa dos Escravos (sul da atual República do Benim), enviou um emissário ao rei da França com o objetivo de oferecer vantagens aos traficantes franceses e, desse modo, contrabalançar a influência dos ingleses e holandeses nos seus domínios.

No vizinho porto de Ajudá, entre o final do século XVII e o começo do século XVIII, traficantes europeus tinham de pagar o valor equivalente a 37 ou 38 escravos (cerca de 375 libras esterlinas) por navio negreiro em troca da autorização para ali comprar cativos. As despesas incluíam ainda tributos, pagamentos para os altos funcionários reais e para os intérpretes locais que sabiam falar fluentemente inglês, francês, holandês e português. Por fim, o próprio rei local tinha a prerrogativa de vender, em primeira mão e a preços mais elevados, um determinado número de escravos de sua propriedade.

 A partir daí começavam as outras negociações, que podiam ser conduzidas apenas por intermédio de representantes comerciais credenciados pelo soberano.  Os participantes africanos do tráfico de escravos incluíam os príncipes e os mercadores mais ricos e poderosos do continente. “A elite africana estava profundamente envolvida com a venda de escravos,”  comentou Paul E. Lovejoy. Um complexo  sistema de crédito alimentava o negócio nos dois lados do Atlântico e financiava cada etapa do tráfico, incluindo a construção ou o aluguel de navios, a compra e a manutenção dos estoques de mercadorias usadas na aquisição de cativos, a subsistência deles enquanto aguardavam o embarque nos portos africanos e durante a travessia do Atlântico. Para demonstrar com maior clareza, vamos as cartas;

 

Carta 1

 [Rei Agonglo ao governador da Bahia, Fernando José de Portugal, Ajudá, 31/03/1790]1 [1] Ilustríssimo excelentíssimo senhor d. Carlos Jozê Portugal2 Pela presente representação vou certificar a Vossa Excelência que o porto de Jaquem [Jaquin] é antiguíssimo porto de comércio e resgate dos navios dessa praça do Brasil, e como pelas continuadas guerras, que os meus antecessores fizeram ao mesmo porto de Jaquem ficou deserto abandonado[.] Agora, no meu tempo, mandei povoar3 e endirei-tar com tudo o necessário, governadores e comissários, e moços bran-cos, que sabem ler e escrever4 para corresponder com os capitães e in-formarem Vossa Excelência do estado da terra para poder desembarcar e fazer o seu resgate, livres de serem roubados, e amofinados como lhe costumam fazer nos portos de baixo5 e demais ficarem livres de guerras, e de invasão, que continuamente estão experimentando os mesmos capitães e seus mercantes; em não passando as embarcações do porto de Ajudá,6 e de Jaquem velho novamente aberto por mim, e por meus cabeceiras,7 migã, meuu e o aboga, governador de Ajudá,8 e dos mais meus vassalos, todos são muito contentes de eu ser servido mandar abrir o dito porto, para o descanso dos navios do resgate dessa [1v] praça [Bahia] por causa acima já referida; e agora me pedem9 faça essa repre-sentação a Vossa Excelência, para que Vossa Excelência em virtude dela avise aos mercantes10 que digam aos capitães dos seus navios que não passem do porto de Ajudá, e de Jaquem, que são os dois portos que estão debaixo do meu domínio, livres de serem perseguidos de guerras e de roubos que costumam fazer,11 e certificar aos mesmos mercantes que se assim não fizerem com os seus capitães não se queixem das suas infelicidades, pois ficando os navios nos meus dois portos, que são por-tos antiguíssimos, eu prometo a Vossa Excelência que os prejuízos que experimentarem, eu os tomo sobre mim, pois sendo assim como mando expor [a] Vossa Excelência, lhe prometo que os cativos dos portos de baixo todos hão de vir aqui parar nos ditos meus dois portos de Ajudá, e de Jaquem, e quem há de informar a Vossa Excelência é o irmão de d.Jozê que é o portador desta,12 o qual Vossa Excelência o despachará logo com a resposta, e o capitão que o trouxer desejo que ele dito e o capitão venham me falar neste Dacome [Daomé] no meu palácio,13 que quero saber novas de Vossa Excelência como aquele a quem tanto vene-ro, [2] e será o dito capitão o primeiro que vai abrir o dito porto. Espero de Vossa Excelência boa resposta[.] Deus guarde a Vossa Excelência por por muitos anos no seu feliz governo etc.

[à margem] Ajudá14 31 de março de 1790 de quem muito o venera Rey Dacomey

 

Carta 2

 [Rei Agonglo ao governador da Bahia, Fernando José de Portugal, Abomé, 20/03/1795]17 [1] Ilustríssimo e excelentíssimo senhor dom Fernando Joze de Por-tugal Envio a presença de Vossa Excelência um meu branco chamado Luiz Caetano,18 e com ele dois embaixadores,19 para Vossa Excelência me fazer favor [de] enviá-los à real presença de Sua Majestade20 na pri-meira ocasião que se oferecer; espero de Vossa Excelência que os envie sem demora; por que a mim me faz favor, e a Sua Majestade serviço.

Rogo a Vossa Excelência que haja de tomar a seu cuidado man-dar [fiscalizar] o peso do tabaco, para que seja esse enrolado com o seu verdadeiro peso; porque umas embarcações o trazem como deve ser, outras muito fora do peso para pequeno.21 Vossa Excelência, sem encar-go de sua consciência, pode fazer com que venham ao meu porto todas as embarcações dessa cidade [Bahia], que andam a resgate de escravos;

bem certo pode Vossa Excelência fiar, que todas se hão de aviar, e fazer bom negócio, proibindo-lhes Vossa Excelência, por sua ordem, a passa-gem para outro porto, que eu também seguro a Vossa Excelência, que nenhum vai perdido deste porto: podem trazer sedas, ouro lavrado e prata, na forma que quiserem, ou em obra, ou em pesos, que para esses efeitos há cativos de sobressalente, fora dos que se vendem a troco de tabaco e aguardente, como muito bem sabem os mesmo capitães.22 Fica a minha palavra dada a [respeito] do bom negócio que seguro aos navi-os no meu porto, agora fico a espera de resposta de Vossa Excelência em que me segure a virem todos ao meu porto. Por esse obséquio ficarei a Vossa Excelência eternamente obrigadíssimo, e para o que for de dar gostos a Vossa Excelência me acharia também pronto. Deus guarde a Vossa Excelência por dilatados anos. Abomé, 20 de março 1795.

De Vossa Excelência o mais fiel venerador O Rey de + Dagomê

 

Carta 3

 [Rei Adandozan ao príncipe regente de Portugal, d. João, Daomé, 1797]43 [347] Cópia Sereníssimo senhor44 Como eu estou tão acostumado a receber favores tão preclaros de Vossa Alteza quero merecer de Vossa Alteza a honra de me mandar uma carruagem45 que seja boa, cuja despesa eu satisfarei na fortaleza de Vossa Alteza, e igualmente quero que Vossa Alteza me faça o favor mandar de pólvora duzentos, ou trezentos barris,46 cujo bom pagamento eu farei em excelentes cativos na mesma fortaleza de Vossa Alteza, cujo mesmo bom pagamento me obrigo a fazer por todas as peças de seda47 que Vossa Alteza fizer remeter para a dita fortaleza, com a cautela delas não se partirem; e espingardas das que usam a gente de guerra de Vossa Alteza, e algumas mais curtas;48 chapéus de sol os mais grandes que possam ser e ricos;49 e um, ou duzentos de chifarotes com os seus bo-cais e ponteiras de prata, que sejam bons [e] não passem de três palmos, e outros mais compridos;50 e alguns frascos brancos lapidados grandes, e pequenos para conservar bebidas; e algumas galantarias com que Vos-sa Alteza me queira fazer o favor [de] honrar; e mais doze cadeiras boas; e vinte quatro chapéus de galão bons, de prata e ouro,51 do que tudo eu farei bom pagamento em escravos bons no forte de Vossa Alte-za[.] Deus guarde a Vossa Alteza para felicidade dos seus reinos etc.

 De Vossa Alteza seu irmão Rey Dagome.


 Toda ação da igreja católica, papas contra a escravidão africana

Bom, um argumento muito comum é que supostamente, a igreja e as autoridades máximas, os papas teriam autorizado a autoridades temporais a captura, além de um tratamento indiferente e desumano para com os negros. Mas, Seria outra grande falácia anti-católica?

A Igreja como instituição perita em humanidade manifestou-se diversas vezes ao longo da  história  contra a escravidão. Em seu santoral possui uma lista de pessoas  negras que subiram aos altares aclamados como santos  e entre os pontífices três foram  oriundos da África, Sendo eles,; ( Victor, Gelasius , e Melquiades ). Bom, no que tange ação direta e efetiva da igreja está nas suas Bulas e encíclicas, foram diversas, das mais variadas, dos mais diversos papas, aqui citarei algumas delas,  com foco na encíclica IN PLURIMIS, de 1888, advinda do Santo pontífice Leão XIII.

Vejamos, O papa Bento XIV (1740-1758) na Bula IMMENSA PASTORUM comentou

“…recebemos certas notícias não sem gravíssima tristeza de nosso ânimo paterno, depois de tantos conselhos dados pelos mesmos Romanos Pontífices, nossos Predecessores, depois de Constituições publicadas prescrevendo que aos infiéis do melhor -modo possível dever-se-ia prestar trabalho, auxílio, amparo, não descarregar injúrias, não flagelos, não ligames, NÃO ESCRAVIDÃO, não morte violenta, sob gravíssimas penas e censuras
eclesiásticas…”

O papa Gregório XVI  ao publicar a bula IN SUPREMO (1839) condenou a escravidão da seguinte forma:

 “Admoestamos os fiéis para que se abstenham do desumano tráfico dos negros ou de quaisquer outros homens que sejam…”

Em 1888, o Papa Leão XIII, na encíclica IN PLURIMIS, dirigida  aos bispos do Brasil, pediu-lhes apoio ao Imperador Dom Pedro II e a sua filha Princesa Isabel , na luta que estavam a travar pela abolição definitiva da escravidão, diz ele na encíclica;

“Agora, entre tantas misérias, a escravidão a que uma não pequena parte da família humana foi submetida por muitos séculos, derramada na miséria e na sujeira, deve ser duramente deplorada, ao contrário do que foi originalmente estabelecido por Deus e a Natureza. Assim, o Criador supremo de todas as coisas decretou: que o homem exerça uma espécie de domínio real sobre os animais da terra, do mar e dos pássaros, e não que domine seus semelhantes. Segundo Santo Agostinho: "O razoável criado, à sua imagem, não quis que o homem dominasse senão os seres desarrazoados; que o homem não domine o homem, mas o rebanho" (Gn 1,26). Portanto, "a condição servil é corretamente entendida como imposta ao pecador. Pois em nenhum lugar das Escrituras lemos a palavra servo, antes que o justo Noé punisse o pecado de seu filho com ela. Portanto, a culpa e não a natureza merecia este nome ”(Gn 1:25).”

Neste outro trecho ele diz;

“Do contágio do primeiro pecado derivaram todos os outros males e esta perversidade monstruosa: que houve homens que, rejeitando a memória da irmandade original, não cultivaram, de acordo com a natureza, benevolência mútua e respeito mútuo, mas, súcubos à sua ganância , eles começaram a considerar os outros homens como abaixo de si mesmos e a tratá-los como jugos nascidos. Desse modo, sem qualquer respeito pela natureza comum, pela dignidade humana ou pela expressão divina semelhança, aconteceu que, por meio de batalhas e guerras que se iniciaram posteriormente, aqueles que foram vitoriosos pela força subjugaram os vencidos, e assim um indivisível multidão da mesma espécie gradualmente se dividiu em duas partes: os vencidos, escravos dos senhores vitoriosos.”

E conclui pedindo a harmonia entre autoridades temporais, senhores de escravos; além de uma belíssima recomendação aos escravos libertos ou em processo:

“Certifique-se de que senhores e escravos cheguem a um acordo entre si com mentes bem dispostas e com plena lealdade e que não se desviem, mesmo em breve, da clemência ou da justiça, mas que todos os acordos sejam celebrados de forma legítima e pacífica. , Cristão: é preciso antes de tudo esperar que a escravidão seja abolida e cancelada como todos desejaram, sem qualquer violação da lei humana e divina, sem qualquer convulsão social, e mesmo com a vantagem certa dos próprios escravos. Para cada um deles, já liberados ou em processo de liberação, Recomendamos com zelo pastoral e amor paternal algumas advertências salutares, extraídas dos escritos do grande Apóstolo dos gentios. Que eles, portanto, cuidem para que preservem e declarem publicamente sua grata e amorosa lembrança daqueles que sabiamente trabalharam por sua libertação. Nunca se façam indignos de tão grande benefício, nunca confundam liberdade com licença desenfreada, mas façam uso da liberdade como convém a cidadãos educados, em benefício de uma vida ativa, em benefício e sustento da família e da sociedade.”

 

Portugal foi mesmo um dos expoentes do Racismo biológico ou científico? Afinal, Portugal tem alguma relação com “racismo estrutural” brasileiro que tanto, os nossos queridos identitários universitários alardeiam?

Como de costume, voltaremos um pouco no tempo, por acaso os nossos estudiosos da esquerda já ouviram falar em Lançados? Ou Agudas? Bom, creio que não sabem, então senta que lá vem história.

Sem mais delongas, Os lançados, também conhecidos por tangomãos, eram negociantes  que se dedicavam ao comércio na costa ocidental africana de forma particular, a partir do século XV. O termo "tangomão" estava sobretudo associado ao tráfico de escravos, mas, o que caracterizou esses sujeitos? Os lançados instalavam-se junto à costa, à revelia da Coroa Portuguesa, normalmente nas "pontas" de terra firme, tanto isolados como em pequenos grupos, com o conhecimento e proteção das populações nativas. No entanto, por vezes chegavam a organizar-se em comunidades suficientemente numerosas e com poder para impor-se pela força às populações locais. Se  estabeleceram muito rapidamente as bases de uma comunidade afro-portuguesa, estabelecendo-se nas cidades e vivendo muito próximos às populações negras, desposando mulheres e casando-se com africanas.  

Esses sujeitos, viriam a originar, nas costas africanas, uma nova forma de organização sócial ou grupo sociocultural, que falava a língua portuguesa, vestia à moda europeia, morava em sobrados retangulares de paredes brancas e varandas, aceitando, no entanto, os costumes africanos, inclusive tatuagens e marcas étnicas.

Tais comunidades praticavam um catolicismo mesclado com práticas animistas no qual o porte da cruz se misturava com a crença fervorosa nos gris-gris, e em que a celebração dos santos cristãos não colidia com o culto dos ancestrais. Os laços que uniam os lançados às comunidades indígenas costeiras foram, sobretudo de amizade e a completa VOLUNTARIEDADE.

Já os Agudás  são descendentes de mercadores de escravos e ex-escravos libertos no Brasil (afro-brasileiros) e retornados ao BenimÁfrica. Numerosos, esses "brasileiros" estabeleceram-se na região da antiga costa dos Escravos – que abrangia todo o golfo de Benim. 

Segundo o especialista, Guran, “eles são diferentes dos outros, vestem-se como brancos, comem com talheres e possuem profissões no sentido cooperativista do termo, como pedreiros, marceneiros, carpinteiros, alfaiates, entre outras. Muito frequentemente, são alfabetizados e se consideram do lado do progresso e da modernidade diante de uma sociedade que eles percebem agora como primitiva a atrasada.”

 

Os “brasileiros” do Benim, nas línguas locais (versões arcaicas do português "brasileiro"), são descendentes dos antigos escravos do Brasil que retornaram à África durante o século XIX, bem como dos comerciantes baianos lá estabelecidos nos séculos XVIII e XIX.

 

Herdaram os nomes de famílias portugueses de livre espontânea vontade como Souza, Silva, Almeida, entre outros, festejam Nosso Senhor do Bonfim, dançam a burrinha (uma forma arcaica do bumba-meu-boi), fazem desfiles de Carnaval e se reúnem frequentemente em torno de uma feijoada ou de um kousidou, afirmou Guran.

Os principais e mais imediatos marcadores de identidade dos agudás são o tom de pele  em geral mais claro, em virtude de miscigenações ocorridas entre os nativos africanos e portugueses ou brasileiros; os sobrenomes portugueses e as vestes lusas ou Tupiniquim.

 Esses africanos retornados aos diversos portos do Golfo de Benin haviam-se transformado a partir de suas vivências no Brasil, sofrendo processo de colonização urbana, eram em sua maioria escravos urbanos, como serviçais domésticos ou como escravos de ganho, de forma que sua referência cultural era, agora, a dos hábitos de seus senhores, procuravam reproduzir na África o comportamento das elites baianas.

A cultura agudá passou a ser uma cultura à europeia, da mesma forma que se construía no Brasil, mas havia incorporado práticas mais ligadas aos escravos do que a seus senhores no Brasil.

 

Na metade do século XIX, esses agudás constituíram uma sociedade à parte, basicamente endogâmica, distinta também pela adesão ao catolicismo e à instrução escolar, provida em escolas fundadas por eles mesmos, e vedadas aos súditos de Abomé. A sociedade agudá era composta pelos descendentes dos traficantes de escravos, os escravos retornados, e também seus descendentes e escravos.

 

Dessa forma, um posicionamento de identidade permitiu aos retornados serem cidadãos de plenos direitos. A identidade social era construída a partir da noção da diferença e da memória de um patrimônio cultural comum a se preservar.

 

Para Guran, esta é uma etnia e não uma comunidade de estrangeiros. Pois estes possuem uma identidade social que os elege a esta categoria. Todos possuem sobrenomes em português, mesmo que não tenham nascido no Brasil pois como escravos libertos adotaram o sobrenome de seu antigo senhor.

 

Portanto, cai por terra, a ideia ou tese de que Portugal teoria desenvolvido uma falsa visão antropológica do homem, calcada na pura identidade Étnica ou racial,  não meu caro Caviar de USP, Portugal preservou ao máximo, esse Cosmopolitismo e essa combinação sócio cultural e étnica dos povos com os quais obteve contato, o racismo que vocês alardeiam é fruto de uma ideologia biológica, criada e desenvolvida nos auspícios de intelectuais Anglo Saxões, Germânicos, no século XIX.

 

 

 

Referências bibliográficas

CARTAS DO DAOMÉ: UMA INTRODUÇÃO* Luis Nicolau Parés: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0002-05912013000100009

Fluxo e refluxo de escravos entre o golfo de Benim e a Bahia de todos os Santos entre o século XVII ao XIX; Pierre Verger: https://b-ok.lat/book/5621582/a1e667

Encíclica In Plurimis; http://www.vatican.va/content/leo-xiii/it/encyclicals/documents/hf_l-xiii_enc_05051888_in-plurimis.html

Milton Guran (2000). Agudás: Os "brasileiros" do Benin

O rei, o Pai e a Morte, Luís Nicolau Pares;  https://b-ok.lat/book/3558640/79c393

Viagens a Daomé, padre Vicente Ferreira pirea.

Alberto da Costa e Silva ( A manilha e o Libambo).https://lelivros.love/book/baixar-livro-a-manilha-e-o-libambo-alberto-da-costa-e-silva-em-pdf-epub-e-mobi-ou-ler-online/

Herbert Klein, ( tráfico de escravos no Atlântico). https://b-ok.lat/book/5558061/2bda01

Laurentino Gomes, Escravidão – Vol. 1: Do primeiro leilão de cativos em Portugal até a morte de Zumbi dos Palmares: Volume 1. https://b-ok.lat/book/5235285/972406

Paul Lovejoy  Transformations in Slavery: A History of Slavery in Africa (African Studies) 2nd Edition( Hardcover ) by Lovejoy, Paul E. published by Cambridge University Press.  https://b-ok.lat/book/4999398/aa32df

 

Arlindo Manuel Caldeira; Escravos e Traficantes no Império Português - O comércio negreiro português no Atlântico durante os Séculos XV a XIX; https://b-ok.lat/book/5585149/54e654

 

IN SUPREMO  http://www.vatican.va/content/gregorius-xvi/it/documents/breve-in-supremo-apostolatus-fastigio-3-dicembre-1839.html